
A investigadora Maria Manuel Mota considera, em entrevista à Lusa, a inteligência artificial (IA) "uma grande aliada" e uma maior formuladora de hipóteses para a ciência e salienta o importante o papel da Europa na regulação.
"Vejo todos os avanços tecnológicos como algo extremamente positivo para a ciência, porque foi a ciência também que os desenvolveu, ou seja, no fundo a inteligência artificial é uma ferramenta que foi desenvolvida pela ciência, mas que nos pode ser muito útil e que vai sendo cada vez maior", salienta a presidente executiva (CEO) do Gulbenkian Institute for Molecular Medicine (GIMM).
Trata-se de "algo que só pode ser visto como uma coisa muito positiva", mas "claro que qualquer desenvolvimento vai ter aspetos negativos e aspetos que são mais preocupantes".
Por isso, "temos que estar cientes desses aspetos negativos, mas temos que estar de braços abertos para usar esta tecnologia que não sabemos onde nos vai levar, obviamente tem que haver um certo planeamento, temos que pensar bem como é que vamos fazer, mas eu não vejo, de todo, com preocupação", prossegue.
Maria Manuel Mota vê com "imensa curiosidade" o desenvolvimento da IA, uma característica que é intrínseca "a todos os cientistas".
Ou seja, "com uma enorme curiosidade de como é que juntos vamos obter melhores resultados".
A cientista salienta que sempre que há algo novo, tal como terá acontecido quando surgiu uma máquina calculadora automática, é normal haver receios.
Em instituições como o GIMM vive-se a "curiosidade", os cientistas "são aqueles, no fundo, que são centrais e que seguem a sua curiosidade" e "para seguir a sua curiosidade tem que haver ansiedade, tem que haver um certo nervosismo, tem que haver borboletas no estômago, tem que ser uma vontade de crescer, mas não tem que ter uma certa preocupação com o que é que vai ser o futuro", discorre.
Até porque "o futuro é o que a ciência nos vai dizer que vai ser, portanto, não tem que ter esse tipo de ansiedade", diz a investigadora.
"No fundo, tentamos libertar os cientistas desse tipo de ansiedade" e com a IA pode surgir "uma ansiedade", continua, recordando que o CEO da OpenAI (dona do ChatGTP) disse que com esta tecnologia haverá descoberta científica a custo zero.
Mas "eu diria que não, eu acho que volto ao mesmo ponto que a inteligência artificial é o nosso maior aliado e, claro que, provavelmente, vai ser um maior formulador de hipóteses".
Ou seja, atendendo à informação que a IA vai ter disponível, esta vai ser capaz de formular hipóteses que provavelmente os cientistas não teriam capacidade.
"Vai ser fantástico e eu acho que temos muito a ganhar", agora se a IA vai ser autómata, se vai começar a desenhar coisas próprias ou se se perderá o controlo, temos de regular".
"Acho que é muito importante regularmos tudo isto para que não saia fora do nosso controlo", diz, apontando que "é importante" o trabalho que a Europa faz em "regular todos estes aspetos e acho que o mundo deve seguir dessa forma, mas acho que, ao mesmo tempo, temos de ter uma liberdade enorme de sermos aventureiros e seguirmos", refere.
A investigadora considera que o "maior perigo" "é o desenvolvimento tão rápido e com uma inteligência muito superior a qualquer um de nós" da tecnologia.
"Vai ser difícil estarmos sempre a prever exatamente o que é que vai acontecer, obviamente. Mas, dizendo isto, eu acho que temos que estar muito em cima e, no nosso caso das ciências da vida, não podemos testar hipótese nenhuma que não tenha uma comissão de ética por trás", aponta.
Para a cientista, é claro que tem de haver regulação: "Tem que ser regulado e, obviamente, quem não cumprir as regras comete um crime".