![IMC deixou de ser eficaz? Especialistas propõem nova forma de definir e diagnosticar obesidade](https://homepagept.web.sapo.io/assets/img/blank.png)
Um grupo de especialistas está a propor uma redefinição da obesidade, afastando-se do tradicional Índice de Massa Corporal (IMC) como única métrica para diagnóstico. Segundo o relatório publicado na revista The Lancet Diabetes & Endocrinology, o objetivo é criar critérios mais precisos para identificar as pessoas que mais necessitam de tratamento.
A obesidade, caracterizada pelo excesso de gordura acumulada no organismo, afeta mais de mil milhões de pessoas no mundo, citando a AP. Atualmente, é diagnosticada principalmente através do IMC (calcula-se dividindo o peso pela altura ao quadrado). Contudo, este método tem sido amplamente criticado por ser limitado.
O IMC pode superdiagnosticar a obesidade em pessoas com elevada massa muscular, como atletas, e subdiagnosticá-la em pessoas com excesso de gordura corporal, mas com valores abaixo de 30, ficando assim fora da classificação tradicional de obesidade.
O que é, afinal, um peso saudável? Será o IMC um bom indicador de saúde?
Novas categorias de diagnóstico
De acordo com a investigação, a obesidade deixaria de ser avaliada apenas pelo IMC, passando a incluir outros critérios e evidências de problemas de saúde relacionados ao excesso de peso.
O relatório introduz, assim, dois novos conceitos:
- Obesidade clínica: aplica-se a pessoas que têm IMC elevado e outros marcadores de obesidade, aliados a evidências de problemas de saúde associados ao excesso de gordura, como doenças cardíacas, hipertensão, problemas hepáticos ou dores articulares severas.
- Obesidade pré-clínica: refere-se a pessoas em risco de desenvolver condições relacionadas com o peso, mas que ainda não apresentam problemas de saúde.
Com estas novas categorias, de acordo com uma análise preliminar, cerca de 20% das pessoas anteriormente classificadas como obesas deixariam de o ser. Mas, em contrapartida, 20% das pessoas com problemas graves de saúde, mas com IMC mais baixo, passariam a ser incluídas na definição de obesidade clínica.
Quais os desafios na implementação?
Apesar da proposta ter sido aprovada por mais de 75 organizações médicas de todo o mundo, a sua implementação poderá enfrentar dificuldades práticas. Medir a circunferência abdominal, um dos indicadores sugeridos, pode ser mais complexo do que aparenta, devido à falta de formação médica e o facto das fitas métricas mais comuns não serem suficientemente grandes para muitas pessoas com obesidade, sublinhou, à AP, Katherine Saunders, especialista em obesidade.
Além disso, diferenciar obesidade clínica de pré-clínica exigirá avaliações de saúde detalhadas e análises laboratoriais, o que "implica custos elevados".
Para Kate Bauer, especialista em nutrição da Universidade de Michigan, a proposta pode ser difícil de compreender pelas pessoas, até porque "gostam e precisam de mensagens simples", cintando a AP.
"Um primeiro passo", dizem os especialistas
Apesar dos desafios, os especialistas defendem que esta abordagem representa um avanço importante no combate à obesidade e que está dado o "primeiro passo do processo”, considera o especialista Robert Kushner.
“O objetivo é identificar quem precisa mais de ajuda”, explicou, à AP, David Cummings, da Universidade de Washington, coautor do relatório.
Para o investigador, o novo sistema não altera significativamente o número de pessoas diagnosticadas com obesidade, mas melhora a identificação de casos clinicamente relevantes.
Segundo os especialistas, a redefinição é apenas o início de um processo que deverá ser acompanhado de novas diretrizes e adaptações práticas.