"A minha casa foi queimada, assim como a do meu vizinho. Os terroristas entraram na sua máxima força e nem se deixaram intimidar por a aldeia estar na via mais movimentada da estrada nacional N1", descreveu uma fonte a partir do esconderijo onde se encontrava.

Segundo a população, o ataque à aldeia de Missufine, área da localidade de Sunate (Silva Macua), no distrito de Ancuabe, situada a quase 70 quilómetros da cidade de Pemba, começou por volta das 18:00 (17:00 em Lisboa), e durou quase quatro horas, quando os insurgentes começaram a disparar de forma indiscriminada enquanto incendiavam residências dos populares, na sua maioria de construção precária.

O ataque precipitou a fuga da população da aldeia e comunidades circunvizinhas, nomeadamente Sunate (Silva Macua), sede distrital de Ancuabe, distrito de Chiúre e cidade de Pemba, capital da província.

"A minha família está em Silva Macua, preferi ficar sozinho para averiguar a situação", disse Siaca, 46 anos, a partir da comunidade de Intutupue, a menos de 10 quilómetros da aldeia Missufine, onde ocorreu o ataque.

Segundo fontes locais pelo menos três pessoas foram feridas devido a balas perdidas disparadas pelos insurgentes durante a incursão.

Trata-se do segundo grande ataque em dois dias levado a cabo pelos grupos insurgentes que atuam na província de Cabo Delgado, depois da vila de Macomia, na sexta-feira.

Entretanto, a população de Macomia começou no sábado à tarde a regressar às suas casas, após relatos da saída do grupo que ocupava a localidade, disseram anteriormente à Lusa fontes da comunidade.

Segundo as fontes, os insurgentes abandonaram a vila sede de Macomia, que ocupavam desde a madrugada de sexta-feira, por volta das 14:00 (13:00 em Lisboa) de sábado, em direção ao posto administrativo de Mucojo, motivando o regresso dos residentes.

O Ministério da Defesa Nacional confirmou na sexta-feira um "ataque terrorista", durante a madrugada, à vila de Macomia, garantindo que um dos líderes do grupo foi ferido pelas Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM) e outro morto.

"O ataque durou cerca de 45 minutos e os terroristas foram prontamente repelidos pela ação coordenada das nossas forças, que obrigaram o inimigo a recuar, em direção ao interior do posto administrativo de Mucojo", lê-se num comunicado do Ministério da Defesa Nacional.

O comunicado acrescenta que o ataque aconteceu cerca das 04:45 locais (03:45 em Lisboa) e que, no "confronto", as FADM "capturaram um terrorista e feriram um dos líderes, conhecido por 'Issa', que conseguiu escapar, não havendo registo de mortos ou feridos por parte das Forças Armadas".

"Posteriormente, o terrorista capturado veio a perder a vida por ferimentos graves", refere ainda o comunicado.

O Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, já tinha confirmado, ao final da manhã de sexta-feira, este ataque à sede distrital de Macomia, explicando que aconteceu numa zona antes controlada pelos militares da missão dos países da África austral, que está em progressiva retirada até julho.

"É verdade que é uma zona ocupada pelos nossos irmãos que nos apoiam, em retirada. Mas os que estão no terreno são 100% os moçambicanos. Talvez possa haver um reforço (...). Como estão de saída. Espero que consigamos nos organizar melhor, porque o tempo de transição dá isso", reconheceu, enaltecendo a intervenção em curso dos militares moçambicanos.

Cabo Delgado enfrenta desde outubro de 2017 uma rebelião armada com ataques reclamados por movimentos associados ao grupo extremista Estado Islâmico.

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