Mykines é a mais ocidental das 18 ilhas do arquipélago das Faroé, país autónomo mas dependente da Dinamarca, localizado no Atlântico Norte entre a Escócia e a Islândia.
Sem carros, sem comércio e com pouco mais de quatro dezenas de casas, a maioria desabitadas, Mykines é natureza intocada. Um lugar privilegiado para a observação de aves marinhas, entre elas os papagaios-do-mar, que atraem à ilha milhares de turistas nos meses de verão.
Um lugar com sete habitantes
Entre o final de maio e o início de setembro chegam diariamente a Mykines três barcos cheios. São 200 visitantes por dia, num lugar com apenas sete habitantes.
Nos últimos anos, com a pressão turística a aumentar sobre a ilha, a colónia de papagaios-do mar ressentiu-se e a associação de proprietários de Mykines, composta pelas 40 pessoas que detêm terrenos na ilha, criou uma taxa turística para os visitantes. Passou também a ser obrigatória a presença de um guia que acompanha os turistas nos trilhos, para evitar que pisem os ninhos.
Katrina Johannsen é presidente da associação de proprietários de Mykines. Estudou na capital do arquipélago e doutorou-se em Londres, mas assim que os filhos nasceram voltou à ilha. É a proprietária do único comércio da ilha, um pequeno café que só está aberto nos meses de verão.
"Voltei porque tinha muitas saudades da minha ilha, da natureza, do som das aves".
“Achamos que 200 turistas por dia é demasiado para uma ilha tão pequena”
Katrina acredita que a taxa turística será fundamental para preservar a ilha como os habitantes a querem manter.
"Gostamos de ter turistas mas não queremos que a ilha seja invadida todos os dias, como está a acontecer", desabafa. "Achamos que 200 turistas por dia é demasiado para uma ilha tão pequena".
Na última década, o número de visitantes disparou na Ilhas Faroé. O país recebe 110 mil turistas por ano, o dobro dos habitantes. Uma das aldeias mais visitadas fica a cerca de 50 minutos da capital, Torshavn, na ilha principal.
Sakson tem mais cascatas que habitantes e há beleza onde quer que se pouse o olhar. Mas a pressão turística tornou-se insuportável para os 11 habitantes da localidades, que decidiram agir.
"Chegou a um ponto em que tínhamos gente por todo o lado. Pisavam os terrenos agrícolas sem restrições. Todos queriam ir mais longe para tirar a melhor foto possível", conta Jóhan Jógvansson, o agricultor que liderou a contestação às hordas de turistas.
Os habitantes colocaram placas com proibições nos terrenos privados e torniquetes no acesso à praia. A dada altura, conta Jóhan, chegaram mesmo a dirigir-se aos autocarros de turistas, gritando-lhes que se fossem embora.
Turismo renegerativo, assente em boas práticas de viagem
A responsável pelo turismo das ilhas Faroé reconhece que é preciso ouvir a insatisfação dos habitantes e garante que as autoridades avançaram já com uma série de medidas, como o turismo renegerativo, assente em boas práticas de viagem. Guðrið Højgaard explica que o sector do turismo duplicou no país na última década mas ainda representa apenas 3% do PIB.
"Estamos atentos aos perigos do turismo de massas e uma das principais medidas que tomámos foi impôr limites aos navios de cruzeiro", lembra Guðrið Højgaard, responsável por várias campanhas de turismo que se tornaram virais.
"Queremos crescer, mas sempre de forma sustentável".
Ficha Técnica:
Jornalista: Susana André
Imagem e Drone: Joel Santos e Magali Tarouca
Repórter de imagem: João Pedro Fontes
Edição de Imagem: Tomás Pires
Grafismo: Paulo Alves
Colorista: Rui Branquinho
Pós-produção Áudio: Edgar Keats
Produção: Ana Marisa Silva
Coordenação: Marta Brito dos Reis
Direção: Bernardo Ferrão