Tim Walz, 60 anos, professor toda a vida antes de entrar na política, incluindo no estrangeiro, vai ser o companheiro de Kamala Harris na longa e previsivelmente extenuante corrida até à Casa Branca. A vice-presidente e já oficialmente candidata democrata à Casa Branca anunciou a sua escolha através de várias publicações em diferentes redes sociais. O própria também já fez saber o que sente sobre este convite: “É a honra de uma vida juntar-me a Kamala Harris”, escreveu no X.

Casado e com dois filhos, Walz é governador do Minnesota, estado solidamente democrata, que Harris iria vencer, muito provavelmente, com ou sem ele ao seu lado. Os seus trunfos são outros.

Segundo os analistas que têm observado, nas últimas duas semanas, os currículos dos nomes que poderiam chegar a candidato a vice-presidente pelo Partido Democrata, Walz tem uma qualidade que pode ser essencial para chegar às pessoas estão desiludidas com a política por consideraram toda a classe como meros representantes de uma elite vedada às “pessoas normais”: é que Walz é uma dessas pessoas normais.

Nascido numa pequena cidade do Nebraska, West Point, foi membro da Guarda Nacional, na qual se alistou aos 17 anos, trabalhou em fábricas e como agricultor antes de conseguir ir estudar para ser professor de Estudos Sociais no Minnesota. Governa um estado onde se sentem os problemas de quem vive uma vida normal, do quotidiano, e a sua atuação tem sido apreciada, tendo sido eleito em 2019 e reeleito em 2022.

Puxar pela autenticidade

“É alguém com experiência vivida comparável a tantas pessoas na América rural”, disse a ex-senadora democrata Heidi Heitkamp, do Dacota do Norte, ao jornal “The New York Times”. Este focou-se também na autenticidade do ex-professor e treinador de futebol americano, em contraste com a escolha de Donald Trump para vice-Presidente, o senador J.D. Vance, do Ohio.

“Há uma inautenticidade em J.D. Vance que é a antítese de Tim Walz. O Tim é a pessoa mais autenticamente normal que se pode conhecer e tem um passado que o coloca num lugar muito único, especialmente para as pessoas da minha zona do país”, disse ainda Heitkamp.

Antes de ensinar no estado onde agora reside, o governador deu aulas na Reserva Indígena de Pine Ridge, no Dacota do Sul, e depois na China. Embora não esteja na vanguarda da política nacional, estabeleceu-se como democrata moderado no Congresso, onde foi representante pelo Minnesota de 2007 a 2019, e como governador do Estado desde 2019.

Atualmente é presidente da Associação Nacional de Governadores Democratas, o que o tem levado a discursar em várias zonas do país. Walz candidatou-se pela primeira vez a um cargo em 2006, num círculo eleitoral para a Câmara dos Representantes de tendência republicana, tendo derrotado o titular de forma inesperada. Manteve o posto até 2016, vencendo os republicanos sempre que a isso se propôs.

Em 2018, candidatou-se a governador e ganhou, voltando a ser eleito em 2022. Os democratas conseguiram também, no Minnesota, conquistar ambas as câmaras da legislatura estadual.

Defensor do direito a interromper a gravidez

Além da sua proximidade com as experiências de vida de uma classe social menos privilegiada, as políticas que foi implantado como governador podem ser um bom mapa para aquilo que os democratas podem esperar concretizar, ou pelos menos tentar, a nível nacional. E isso pode ser um trunfo em campanha.

Walz conseguiu consagrar o direito ao aborto na legislação estatal, um dos temas que mais vão marcar esta campanha, instituiu refeições gratuitas nalgumas universidades estaduais, impôs restrições à posse de armas e proibiu a terapia de conversão para pessoas homossexuais ou consideradas desviantes pela sua família, congregação religiosa, etc., tendo assegurado a proteção dos cuidados de saúde de afirmação de género.

Algumas destas medidas são vistas como demasiado progressistas pela ala mais conservadora do Partido Democrata. Numa entrevista à CNN, onde esta questão lhe foi colocada, Walz brincou com o assunto. “Que monstro! As crianças estão de barriga cheia para poderem aprender e as mulheres estão a tomar as suas próprias decisões em matéria de cuidados de saúde”.

Walz também assinou um projeto de lei, em maio passado, expandindo os direitos de voto em Minnesota para cerca de 55 mil residentes com passado prisional. O governador tem sido alvo de críticas dos republicanos por ter demorado a reagir aos protestos que se seguiram ao assassínio de George Floyd às mãos da polícia.

“Terra a terra” contra “esquisitos”

Recentemente, em mais uma prova das suas credenciais “terra a terra”, classificou Trump e J.D. Vance como “esquisitos”. A palavra, em inglês weird, já a ser usada pelos democratas em anúncios de campanha e nas redes sociais.

Esta relativa simplificação dos assuntos pode levar a mensagem da candidatura mais longe, mas a maior vantagem de Walz é mesmo a capacidade de “vender” medidas positivas, de explicar às pessoas o que deseja ver implantado, não só em que não devem votar. “O Tim é um tipo muito caseiro”, afirmou Tim Ryan, antigo representante democrata do Ohio, que trabalhou com Walz no Congresso, citado por “The Guardian”.

Ryan recordou um vídeo recente em que Walz mencionava que Minneapolis, a maior cidade do Minnesota, estava entre os três lugares mais felizes do país. “Não é esse o objetivo? Ter alguma alegria? Quando ele mencionou isso, pensei: ‘Bolas, é muito bom’. É muito bom, porque nos tira do espaço político e nos leva para o espaço do ser humano”.

Josh Shapiro, governador da Pensilvânia que era outra das opções para vice-Presidente de Harris já reagiu, com um comunicado no X, no qual oferece todo o seu apoio a Walz e à campanha, anuncia que vai estar presente em comícios e elenca o que fez e o que ainda lhe falta fazer no seu estado, que é um dos mais importantes nas presidenciais, representando um total de 19 assentos no Colégio Eleitoral. Shapiro tinha sido considerado um favorito precisamente por isso, porque Harris está praticamente obrigada a vencer a Pensilvânia se quiser ser presidente

Notícia atualizada às 15h45 com a confirmação oficial do convite de Harris a Walz

Trump contra-ataca

A campanha do candidato republicano à Presidência dos Estados Unidos, Donald Trump, acusou o recém-anunciado candidato a vice da rival democrata Kamala Harris, Tim Walz, de ser um "perigoso radical de esquerda".

"Desde propor a sua agenda livre de carbono, até sugerir muito restritos padrões de emissão de carros a combustível e abraçar políticas que permitem a condenados votar, Walz está obcecado em difundir a agenda de esquerda da Califórnia", escreveu a campanha republicana, num comunicado, pouco depois de ser noticiada a escolha do número dois democrata.

"Não admira que a liberal de São Francisco Kamala Harris queira o aspirante Tim Walz como seu companheiro de candidatura", argumentou a candidatura de Trump, denunciando que Walz desperdiçou o seu tempo como governador a reformatar o Minnesota à imagem da Califórnia, um estado conotado com as ideias de esquerda.

"Tim Walz é um perigoso radical de esquerda", escreveu a campanha republicana, num comunicado, acusando o governador do Minnesota de fingir que apoia a América rural, quando "na verdade ele acha que a América rural é essencialmente pedras e vacas".