O escritor franco-argelino Kamel Daoud venceu, esta segunda-feira, o Prémio Goncourt, o mais prestigiado das letras francesas, com "Houris", um relato ficcional dos massacres durante a "década negra" da Argélia (1992-2002), anunciou a organização.
"Houris", publicado pela Gallimard, era tido como o favorito dos quatro finalistas ao prémio, não apenas por razões literárias, mas também por razões políticas.
Neste romance, o escritor e jornalista franco-argelino de 54 anos coloca-se na pele de Aube, uma jovem grávida que conta à filha por nascer o massacre da sua família, a 31 de dezembro de 1999, por islamitas que tentaram cortar-lhe a garganta, deixando-a desfigurada e muda.
Crítico do islamismo radical, o que lhe valeu uma 'fatwa' no seu país de nascimento (Argélia), Kamel Daoud já tinha ganhado em 2015 o Prémio Goncourt de Melhor Primeiro Romance, com "Meursault, contra-investigação" (editado em Portugal pela Teodolito), o seu único livro publicado em Portugal, obra que escreveu como uma resposta a "O estrangeiro", de Albert Camus.
O anúncio foi feito no restaurante Drouant, em Paris, onde os jurados se reuniram.
Distinção vale prémio de 10 euros
O Goncourt tem um prémio monetário meramente simbólico, já que o vencedor recebe um cheque de apenas dez euros, mas garante ao seu autor notoriedade, tiragens milionárias e traduções em dezenas de línguas.
No ano passado, o Goncourt foi atribuído ao escritor francês Jean-Baptiste Andrea, pelo romance "Velar por ela", uma história de amor sobre o pano de fundo do fascismo em Itália.