"Eu acho que pode haver ali um esforço para tentar quebrar com a gestão anterior, diria assim, mas acho que escolheu mal o tema", considerou Paulo Raimundo, à margem da inauguração do novo Centro de Trabalho do PCP no Fundão, no distrito de Castelo Branco.

Questionado sobre se as declarações de Pedro Nuno Santos podem ser uma aproximação à direita, o secretário-geral comunista admitiu que "pode haver uma constatação de que é preciso agradar a certos setores" e referiu que "não se pode cuspir na sopa onde se comeu".

"Havia tanta coisa, tanta coisa sobre a qual o Partido Socialista podia e devia fazer atos de contrição. Eu acho que escolheu logo a pior", realçou Paulo Raimundo.

O líder comunista afirmou que Pedro Nuno Santos podia ter condenado a forma como se abriram "as portas ao desmantelamento em curso" do Serviço Nacional de Saúde, ou falar sobre os apoios aos grandes grupos económicos, com as descidas do IRC, sobre as isenções fiscais, o que não se resolveu na habitação ou nas portagens no interior do país, elencou.

Segundo Paulo Raimundo, "o país não tem recursos ilimitados e tem de haver regras", mas acentuou que os imigrantes são necessários e é importante que tenham assegurados os seus direitos e deveres, como acontece com os muitos emigrantes portugueses em outros países.

Pedro Nuno Santos admitiu, em entrevista ao Expresso, que não se fez tudo bem nos últimos anos quanto à imigração e anunciou que vai apresentar uma solução legislativa que permita regularizar imigrantes que estão a trabalhar, mas recusando recuperar a manifestação de interesses.

O líder socialista frisou, na mesma entrevista, que quem procura Portugal para viver "tem de perceber que há uma partilha de um modo de vida, uma cultura que deve ser respeitada", declarações de que vários socialistas se demarcaram.

"O país não tem meios ilimitados, precisa ter regras, como sempre teve regras, para acolher aqueles que nos procuram, da mesma forma que nós exigimos regras para aqueles portugueses que procuram lá fora, noutros países, uma vida melhor, que também tenham regras para a sua integração", vincou Paulo Raimundo.

O secretário-geral do PCP defendeu ser necessário ter "uma política que possa acolher" e que "é preciso encontrar soluções para essa integração, porque [os imigrantes] fazem falta".

Na inauguração do novo Centro de Trabalho no Fundão, inaugurado durante a ação nacional do partido sob o tema "Aumentar salários e pensões, por uma vida melhor", que prosseguiu em Castelo Branco, estiveram presentes representantes de vários partidos políticos e o presidente do município, Paulo Fernandes, eleito pelo PSD.

"Somos terra de acolhimento para todos. Sinta-se em casa, como as pessoas de 78 nacionalidades que aqui convivem", disse o autarca, dirigindo-se a Paulo Raimundo.

O secretário-geral comunista frisou que a nova sede do partido no Fundão "é um espaço não para o partido se fechar dentro, mas para se abrir" ao exterior e para "se ligar às pessoas lá fora".