
Nem toda a liderança é benéfica e nem todos os líderes impactam pela positiva a vida de quem com eles trabalha. Um pouco por toda a parte há líderes tóxicos, destrutivos, que podem ter um impacto negativo profundo e duradouro nas pessoas, equipas e organizações.
Os sinais, em regra, estão todos lá: atitudes persistentes e sistemáticas que prejudicam os trabalhadores ou as equipas, interações abusivas, recorrendo muitas vezes ao insulto ou humilhação, o perfil autoritário ou narcisista, os comportamentos imprevisíveis ou mesmo agressivos que vão muito além da má gestão. É deles que falamos neste episódio especial do podcast “O CEO é o limite”, com os investigadores e docentes Maria João Guedes, do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), e Pedro Neves, da Nova School of Business and Economics (Nova SBE).
"Um líder destrutivo é um mau líder”, resume Maria João Guedes, que se tem dedicado a estudar o impacto deste tipo de líderes nas empresas e profissionais. A especialista acrescenta que “podemos olhar para um líder destrutivo em três dimensões: pode ser um incompetente, não sabe o que está a fazer e não sabe liderar, pode ter falta de ética e tomar decisões questionáveis ou ilegais, que podem prejudicar claramente a reputação da empresa, e pode ser um líder tóxico, aquele que se acha ‘donos do pedaço’, não admite que ser contrariado, tem a sua agenda pessoal que quer atingir a qualquer custo”.
Falar de liderança destrutiva é falar daquilo a que Pedro Neves, chama de “tríade negra da liderança”, as três características de personalidade do líder: “o maquiavelismo, a ideia de que os fins justificam os meios, a psicopatia, que se traduz na falta de empatia e de preocupação com o outro, e o famoso narcisismo, que o coloca no centro de tudo e de todos”. E garante Pedro Neves, “qualquer uma destas três características tem o potencial de destruir processos dentro da organização”.
Estes tipos de comportamento “podem manifestar-se isoladamente ou em simultâneo”, diz Maria João Guedes. Mas desengane-se se pensa que um líder com estas características está condenado ao fracasso: “podem ter sucesso”, diz a académica. E mais: “em tempos de crise e incerteza, este tipo de líderes [tóxicos] podem ser importantes e ter um impacto positivo na organização" pelo efeito mobilizador que por vezes conseguem ter.
Essa não é, contudo, a norma. O impacto de um líder destrutivo numa empresa pode ser muito nefasto, aponta Pedro Neves, “não só pelas pessoas que saem, mas sobretudo pelas que ficam, mesmo que desmotivadas”. E o académico recorda que “o presentismo é pior do que o absentismo". O impacto de uma liderança destrutiva no contexto de uma empresa é mensurável não só nos resultados da organização – afetados por falta de produtividade, rotação excessiva de profissionais e, por vezes, más decisões – mas também nos “custos brutais para a saúde das pessoas”, realça Maria João Guedes.
O CEO é o limite é o podcast de liderança e carreira do Expresso. Todas as semanas a jornalista Cátia Mateus mostra-lhe quem são, como começaram e o que fizeram para chegar ao topo os gestores portugueses que marcaram o passado, os que dirigem a atualidade e os que prometem moldar o futuro. Histórias inspiradoras, contadas na primeira pessoa, por quem ousa fazer acontecer. Ouça outros episódios: