"Soube depois que a consulta do Lusíadas poderia ser encaminhada para o Hospital de Santa Maria. Não sei quem desmarcou no Lusíadas e não sei quem marcou no Santa Maria", disse Daniela Martins.
Ouvida hoje na comissão parlamentar de inquérito que avalia o caso das suas filhas, a mãe explicou que a marcação da consulta no Lusíadas para 06 de dezembro de 2019 aconteceu, porque conhecia o trabalho da médica Teresa Moreno, através de um 'mail' do hospital a dizer que o pedido "seria direcionado pela diretoria".
"Na altura, sabia que Teresa Moreno atendia as crianças de forma particular no Lusíadas e estava a tentar abrir um caminho (...) fosse no público ou no privado", atentou.
Daniela Martins indicou que o primeiro contacto Teresa Moreno - que trabalhava, à data dos factos, no Hospital de Santa Maria e no Lusíadas - surgiu em novembro de 2019 a partir de um 'mail' que nunca teve resposta.
"Enviei um 'mail para ela por volta de novembro e não foi retornado. Ainda tentei interagir, mas nunca recebi resposta", disse.
Sobre a divergência que ocorreu com a médica, Daniela Martins esclareceu que aconteceu depois de a clínica não ter respondido se as crianças estavam "dentro dos critérios" para serem tratadas com Zolgensma.
"Quando as minhas filhas vieram elas tinham que tomar uma medicação em cada quatro meses. Se tinha de tomar o Zolgensma ou outro medicamento. (...) Eu tentei perguntar que medicação deveriam tomar, se as medidas estavam dentro do critério para tomar o medicamento [Zolgensma]. Ela não respondeu", vincou.
Daniela Martins disse, todavia, que não se recorda quando recebeu a confirmação da consulta no Hospital Lusíadas e como chegou a Teresa Moreno, reforçando que contactou aquela unidade hospitalar através do 'mail' comercial.
"Não me recordo como recebi o 'mail'. Estava mais preocupada com corpo do 'mail' que dizia que tinha conseguido a consulta", indicou.
Na segunda e última ronda, a mãe das crianças indicou que já tiveram alta do Hospital de Santa Maria, depois de uma consulta 'online' em 13 de maio e agora são "acompanhas por médicos competentes no Brasil".
Sobre esta questão, que foi sendo abordada como "o pistolão", ou seja, a cunha, Daniela Martins voltou a dizer que não tinha "como saber o que acontecia nos bastidores" do hospital e que estava "fora do alcance" saber quem deu indicação para a marcação da primeira consulta, apesar de admitir ter curiosidade em saber.
Quanto ao caso das suas filhas ter chegado ao filho do Presidente da República, Daniela Martins defendeu que Nuno Rebelo de Sousa "em Portugal é figura muito importante" mas no Brasil não tem a mesma notoriedade e lá "não é uma pessoa famosa".
Na segunda ronda de perguntas, vários partidos salientaram que qualquer pai ou mãe tentaria sempre encontrar a melhor solução para os seus filhos e que esta comissão de inquérito não tem como objetivo fazer qualquer julgamento da sua atuação, mas sim apurar responsabilidades políticas.
O PSD disse que os portugueses não acreditam na versão apresentada por Daniela Martins ao parlamento de que é falso que alguém tenha intercedido pelas suas filhas, o PS defendeu que existe uma "cortina de fumo no início deste processo", enquanto o Chega ironizou que "parece que a marcação da consulta foi feita por obra e graça do espírito santo".
IL e BE levantaram a suspeita de que Daniela Martins poderia estar a encobrir alguém e o deputado João Almeida, do CDS-PP, disse que se a mãe acreditou que estaria a ter tratamento especial por dizerem isso no Santa Maria, então ele próprio também acreditava que isso terá acontecido.
O Livre questionou a versão de que não terá sido a mãe das gémeas a enviar emails a Nuno Rebelo de Susa, alegando que foi encaminhada "informação pessoal".
A mãe das gémeas luso-brasileiras foi ouvida hoje na comissão parlamentar de inquérito ao caso do tratamento das suas filhas com o medicamente Zolgensma, audição que durou quarto horas e meia.
JML/FM // JPS
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