Numa ronda feita pela Lusa ao longo da manhã por todos os bairros da capital, não se registou qualquer manifestação, sendo que praticamente todas dos dias anteriores levaram à intervenção policial, que disparou tiros e lançou gás lacrimogéneo para dispersar os manifestantes.
Se ao início da manhã o movimento era reduzido, pouco depois, num cenário de quase normalidade na capital, progressivamente os poucos comércios que decidiram não abrir começaram a funcionar, levando a azáfama habitual de pessoas e trânsito à cidade.
Os transportes também estão a funcionar normalmente, mas é visível um reforço policial e militar em vários bairros, ainda assim reduzido face a dias anteriores.
O candidato presidencial Venâncio Mondlane pediu um novo período de manifestações nacionais em Moçambique, durante três dias, a partir de hoje, em todas as capitais provinciais, incluindo Maputo, contestando o processo eleitoral.
"Vamo-nos manifestar nas fronteiras, nos portos e nas capitais provinciais (...). Vamos paralisar todas as atividades para que percebam que o povo está cansado", apelou na segunda-feira Venâncio Mondlane, sobre a "quarta etapa" de contestação ao processo das eleições gerais de 09 de outubro.
Um protesto que pediu para ser alargado aos portos e às fronteiras do país, e aos corredores de transporte que ligam estas infraestruturas, apelando à adesão dos camionistas: "Não obrigamos ninguém a aderir à manifestação. Passamos os valores da manifestação e quem quiser adere".
O comandante-geral da Polícia da República de Moçambique (PRM) Bernardino Rafael, disse na terça-feira que é preciso um "basta" às manifestações e paralisações, referindo que são "terrorismo urbano" com intenção de "alterar a ordem constitucional".
"Urge dizer basta às manifestações violentas com tendência de sabotagem de grandes empreendimentos que o país conquistou durante a independência e que são a esperança da geração vindoura", declarou o Bernardino Rafael.
Os empresários moçambicanos estimaram na terça-feira em 24,8 mil milhões de meticais (354 milhões de euros) os prejuízos causados em dez dias de paralisações e manifestações convocadas pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane, com 151 unidades empresariais vandalizadas.
"Com estas manifestações acompanhadas pelas paralisações da atividade económica, constatamos que os setores de comércio, logística e transporte foram os mais afetados, sendo que as perdas totais e impacto no PIB (Produto Interno Bruto) totalizaram 24,8 mil milhões de meticais (354 milhões de euros), que são cerca de 2,2% do nosso PIB", declarou o presidente da Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA), Agostinho Vuma.
O Ministério Público (MP) moçambicano já instaurou 208 processos-crime para responsabilizar os autores "morais e materiais" da violência nas manifestações pós-eleitorais, anunciou também na terça-feira a Procuradoria-Geral da República (PGR), responsabilizando o candidato presidencial Venâncio Mondlane.
A PGR refere que, no "âmbito das suas competências constitucionais e legais", o MP "tem estado a instaurar processos judiciais, visando a responsabilização criminal" dos autores "morais e materiais", e "cúmplices destes atos".
"Tendo sido desencadeados, até ao momento, 208 processos-crime, nos quais se investiga homicídios, ofensas corporais, danos, incitamento a desobediência coletiva, bem como a conjuração ou conspiração para prática de crime contra a segurança do Estado e alteração violenta do Estado de direito", lê-se.
Moçambique, e sobretudo Maputo, a capital, viveram paralisações de atividades e manifestações convocadas desde 21 de outubro por Venâncio Mondlane, que não reconhece os resultados das eleições gerais anunciados pela Comissão Nacional de Eleições, que dão vitória a Daniel Chapo e à Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, partido no poder).
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