
A líder da extrema-direita francesa, Marine Le Pen, impedida de se candidatar à presidência em 2027 devido a condenação por corrupção, disse hoje que não vai desistir e denunciou as "mentiras, calúnias e falsos julgamentos" a que foi submetida.
Perante vários milhares de apoiantes reunidos na praça parisiense Vauban, junto aos Inválidos, Le Pen denunciou uma perseguição judicial, tal como outros líderes de extrema-direita, entre os quais citou o vice-presidente do governo italiano, Matteo Salvini.
"Não foi uma decisão da justiça, foi uma decisão política", disse a dirigente, entre aplausos de militantes e simpatizantes do partido União Nacional (RN, na sigla em francês), numa manifestação de apoio após a sua condenação por desvio de fundos europeus, que a tornou inelegível para cargos públicos durante cinco anos.
A manifestação foi convocada pelo atual líder do partido, Jordan Bardella, que encorajou a extrema-direita a sair à rua para protestar contra a decisão judicial, que também condenou Le Pen a quatro anos de prisão (dois dos quais de pena efetiva, atenuados para uso de pulseira eletrónica).
Marine Le Pen, que foi condenada por ser a principal responsável pelo desvio de 4,1 milhões de euros do Parlamento Europeu (PE) em benefício do partido, insistiu que tinha "sofrido um julgamento político" e criticou a "brutalidade" da UE e a parcialidade do Ministério Público francês.
"Tive de ser eliminada da vida política e sem possibilidade de recurso", lamentou Le Pen, referindo-se à execução imediata da inabilitação de cinco anos para o exercício de cargos públicos, que espera ver reduzida num recurso a decidir em 2026, antes das eleições de 2027, para as quais, segundo as sondagens, é a favorita.
Marine Le Pen e atual deputada considerou que "o Estado de direito e a democracia estão a ser desprezados" pela condenação contra ela e lembrou que 13 milhões de eleitores "têm o mesmo valor" que os outros cidadãos.
Le Pen deixou claro que não põe em causa o trabalho de todos os juízes e condenou as ameaças e os insultos de que foram alvo alguns membros do poder judicial na sequência da sentença.
Parte da oposição francesa classificou esta manifestação como um protesto contra a independência do poder judicial em França, um princípio que constitui um dos pilares da democracia.
Enquanto a manifestação de apoio decorria na praça Vauban, noutro ponto da capital francesa, na praça da República, manifestantes denunciaram o evento da RN como uma "viragem trumpista" do partido da extrema-direita.
Apesar da decisão do tribunal na passada segunda-feira, as sondagens mostram que a RN se mantém forte, mesmo com o protegido de Le Pen, Jordan Bardella, como candidato a uma eleição presidencial em 2027.
O partido centrista Renaissance, de Gabriel Attal, organizou o seu próprio evento em Saint-Denis, alertando para uma "ameaça existencial ao Estado de Direito".
A decisão judicial repercutiu-se para além de França, polarizando o país e provocando também repercussões nos círculos de extrema-direita de toda a Europa e não só, depois de alguns partidos, incluindo o de Le Pen, terem ganho terreno nos últimos anos.
Nas vésperas do protesto, uma sondagem revelou que quase metade dos franceses (49%), um aumento de sete pontos percentuais num mês, quer que Marine Le Pen seja candidata às próximas eleições presidenciais, em 2027.