O governador do Banco de Portugal (BdP) apontou, esta terça-feira, que a Europa tem feito um "trajeto sustentável" económica e financeiramente e que a sua evolução não pode ser comparada com a dos EUA, que "levanta muitas dúvidas".
"A Europa tem um trajeto sustentável, e o trajeto económico e financeiro dos Estados Unidos levanta muitas dúvidas de sustentabilidade. Queria que isto ficasse muito claro porque este é o preço que estamos a pagar quando olhamos para os Estados Unidos e vemos que os Estados Unidos crescem mais que a Europa", disse Mário Centeno numa apresentação na conferência Banca do Futuro.
O responsável do banco central apontou que, antes da pandemia da covid-19, os dois blocos "cresciam essencialmente o mesmo" e que "o grande diferencial" surgiu durante a crise inflacionista.
"O processo inflacionista na Europa foi um processo de oferta, foi um processo causado por uma crise energética, mas os Estados Unidos exportam energia, e a Europa não exporta energia. Tirar daqui conclusões para a produtividade com economias distintas, com estímulos orçamentais diametralmente opostos é algo que penaliza os europeus para além daquilo que é razoável fazer", apontou.
O governador apontou que a Europa tem de deixar de estar "no lugar do passageiro", em que se sente "demasiadas vezes, demasiado confortável".
"Temos os consumidores mais conservadores do planeta"
Na sua intervenção na conferência organizada pelo Jornal de Negócios, Mário Centeno repetiu o apelo feito pela presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, que na sexta-feira insistiu na conclusão do quadro da união dos mercados de capitais (UMC) na União Europeia, registando que a Europa tem "uma aversão ao risco superior a outras áreas económicas do mundo".
"Temos os consumidores mais conservadores de todo o planeta, por isso temos, também, os investidores, muitas vezes, a preferir investir as poupanças que conseguem encontrar na Europa noutras jurisdições [...] , e por isso precisamos de reforçar algo que ainda temos de forma muito incipiente, e alguns diz que não temos de todo, que é a união de mercados de capitais. Para isso precisamos de entrar em matérias muito sensíveis", dentro de cada Estado-membro para alcançar uma estrutura uniforme e equilibrada na área do euro.
Mário Centeno apontou que Portugal e a Europa têm níveis de investimento baixos e que esta UMC pode representar um fator decisivo para ultrapassar a situação.
Na semana passada, Lagarde pediu a aplicação de medidas para melhorar a entrada, expansão e saída de poupanças, de forma a restaurar o dinamismo da economia, recordando que estas não entram de forma significativa nos mercados de capitais porque estão concentradas em depósitos de baixo rendimento.
Agora, Mário Centeno registou que os depósitos na banca portuguesa estão em máximos históricos e que devem ser encontradas formas de remunerar esta poupança.
Sobre a evolução do setor bancário, Mário Centeno destacou a melhoria de alguns indicadores na última década, destacando o aumento da capitalização e da eficiência da atividade, bem como a redução do rácio de crédito malparado.
Portugal no top 5 dos sistemas bancários nacionais europeus
Nesse sentido, o líder do regulador bancário enalteceu duas reestruturações bem-sucedidas "quando praticamente nenhum país conseguiu fazer uma", o contexto de estabilidade e de redução sistémica dos riscos e os resultados históricos de 2023 e 2024.
"O conjunto bancário português está, nas avaliações que são feitas pelas autoridades europeias dos sistemas bancários nacionais, no top 5 dos sistemas bancários nacionais europeus. Quem diria, há 10, 15 anos, que este resultado se conseguiria obter aqui, em Portugal", destacou.