
O governador do Banco de Portugal (BdP) confessou esta quarta-feira ter "horror" dos pagamentos automáticos e aconselhou a que não se "abuse" deles, recomendando também a poupança e a criação de 'almofadas' financeiras para lidar com choques.
Mário Centeno falava no encerramento da sessão solene da Semana da Formação Financeira 2025, em Lisboa, onde destacou a importância da literacia financeira nomeadamente numa era digital, em que se passou a usar como métrica o número de 'cliques'.
"Como economista, e seguramente também como governador do Banco de Portugal, e presidente do Conselho Nacional de Supervisores Financeiros, confesso-vos que tenho algum horror a pagamentos automáticos", admitiu Centeno, argumentando que "quando automatizamos demasiado a nossa despesa, deixamos de ter exata noção da despesa que estamos a efetuar".
O governador deixou assim uma dica para que não se abuse dos pagamentos automáticos, aconselhando também à necessidade de se começar a poupar cedo: "é de pequenino que se financia o destino", disse.
"Poupar é como fazer dieta"
Após numa aula aberta ter feito referência a uma música de Amália Rodrigues, "Conta Errada", Centeno decidiu desta vez citar Herman José com a canção "amanhã começo a dieta", ao sinalizar que "poupar é como fazer dieta".
Neste tópico, defendeu a necessidade de criar almofadas financeiras e, assim, "as condições para, no futuro, perante aquilo que é incerto", poder "dar respostas afirmativas, mais vezes, a esta pergunta essencial: se estamos ou não preparados".
Centeno exemplificou esta necessidade de preparação para os choques com uma decisão política várias vezes adiada, o novo aeroporto de Lisboa.
"A decisão do aeroporto foi tão tardia, porque quando estávamos mesmo, quase, no passado, a decidir, acontecia um choque. E não nos tínhamos preparado para, durante esse choque, poder manter essa decisão em cima da mesa", reiterou o ex-ministro das Finanças, ecoando o exemplo que já tinha sido dado, no início desta sessão, pelo ministro da Educação, Fernando Alexandre.