A chefe de Estado da Moldova, Maia Sandu, afirmou esta segunda-feira que o povo da antiga república soviética optou pela via europeia no referendo constitucional de domingo, enquanto nas presidenciais os resultados apontam para uma segunda volta.

“O povo da Moldova expressou a sua vontade, a maioria dos cidadãos apoiou a via europeia”, disse a política pró-ocidental, numa conferência de imprensa, pouco depois de terem sido anunciados os resultados finais da votação do referendo.

De acordo com os últimos dados relativos aos 99,59% dos votos contados, o “sim” à inclusão da adesão à União Europeia (UE) como um objetivo nacional na Constituição da Moldova venceu com 50,45% dos votos.

Com os votos no estrangeiro ainda por contabilizar, os opositores à adesão ao bloco europeu obtiveram 49,55% dos votos.

“Graças a vocês, caros moldavos, vencemos a primeira batalha. Ganhámos de forma justa numa batalha injusta”, afirmou Sandu, apelando aos seus apoiantes para que se mobilizem para a segunda volta das eleições presidenciais, prevista para 3 de novembro, para evitar um “desastre”.

“Por favor, ajudem-me nas próximas duas semanas. Vamos chamar as coisas pelos nomes, vamos mobilizar o maior número possível de cidadãos para evitar um desastre”, disse a líder moldava, que denunciou a existência de uma fraude e da interferência russa na consulta pública e no processo eleitoral de domingo.

“Temos provas e informações de que um grupo criminoso tencionava comprar 300.000 votos. Trata-se de uma fraude sem precedentes que visa comprometer a democracia. O seu objetivo é semear o medo e o pânico na sociedade”, declarou a Presidente pró-ocidental.

Sandu, que enfrenta uma segunda volta contra o candidato pró-russo Alexander Stoianoglo, sublinhou que, "tal como nos últimos meses, a liberdade e a democracia na Moldova têm estado sob um ataque sem paralelo" .

De acordo com os últimos dados preliminares, Sandu obteve 42,33% dos votos nas eleições de domingo, contra 26,05% do antigo Procurador-Geral da Moldova, Alexander Stoianoglo.

A Moldova, um dos países mais pobres da Europa, espera aderir até 2030 à UE, para onde já exporta 65% dos seus produtos e de onde recebe mais de 80% do investimento direto.

As atuais autoridades, a favor da adesão, parecem ter sido prejudicadas pelo facto de a consulta popular coincidir com as eleições presidenciais, após quatro anos de queda do nível de vida devido à pandemia de covid-19, ao conflito na vizinha Ucrânia e à guerra energética com a Rússia.

Com cerca de 2,5 milhões de habitantes, a Moldova situa-se entre a Roménia e a Ucrânia.

A região separatista moldava da Transnístria ganhou destaque após o início da guerra na Ucrânia (em fevereiro de 2022) devido aos laços com a Rússia e à sua importante posição geoestratégica.

Kiev chegou mesmo a denunciar alegadas incursões russas na Ucrânia ocidental a partir da região separatista.

A Rússia mantém um contingente de 1.500 soldados na Transnístria, cujos separatistas pró-Moscovo controlam o território desde a guerra civil na Moldova, em 1992.

Kremlin alega “anomalias” em referendo na Moldova

Moscovo declarou esta segunda-feira que os resultados das eleições presidenciais e do referendo sobre a adesão à União Europeia apresentam “anomalias” e levantam muitas questões.

“Foram observadas anomalias nos resultados da votação na Moldova devido ao aumento de votos a favor da [Presidente moldava Maia] Sandu e da integração europeia”, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, na sua conferência telefónica diária.

Peskov referiu-se à mudança nos resultados da votação à medida que a contagem estava a avançar, o que ampliou a vantagem de Sandu sobre o seu adversário mais próximo, o pró-russo Alexander Stoianoglo, e com uma viragem a favor do “sim” no referendo sobre a entrada da Moldova na UE.

“Os indicadores que vemos hoje, que estamos a acompanhar, e a dinâmica das suas mudanças, com certeza, levantam muitas questões”, sublinhou.

O porta-voz do Kremlin acrescentou que é “difícil explicar o ritmo do aumento mecânico dos votos a favor de Sandu e a favor dos participantes no referendo que defendem a orientação pró União Europeia”. “Qualquer observador que tenha a mínima compreensão da essência dos processos políticos pode detetar estas anomalias com o aumento destes votos”, insistiu.

Peskov pediu também a Maia Sandu que apresentasse provas de interferência estrangeira nos processos eleitorais, que denunciou na noite de domingo. O porta-voz do Kremlin indicou que se trata de uma “acusação bastante grave”, pelo que “deveriam ser apresentadas algumas provas ao público”.

Também a Comissão Europeia denunciou hoje uma “interferência e intimidação sem precedentes”, por parte da Rússia, no referendo.

“Estivemos a acompanhar de muito perto as votações [de domingo], o referendo e as eleições presidenciais na Moldova. A Moldova é um parceiro muito importante da UE e é de assinalar que esta votação teve lugar sob uma interferência e intimidação sem precedentes por parte da Rússia e dos seus representantes, com o objetivo de desestabilizar os processos democráticos na República da Moldova”, reagiu o porta-voz do executivo comunitário para os Negócios Estrangeiros, Peter Stano.

“Estamos agora a aguardar o anúncio final dos resultados oficiais de ambas as votações e o anúncio dos observadores eleitorais da Comissão Central de Eleições, o que deverá acontecer esta tarde, e, depois disso, apresentaremos a nossa reação oficial”, acrescentou, falando na conferência de imprensa da Comissão Europeia, em Bruxelas.

“Obviamente que, no que toca à adesão da Moldova [à UE], continuamos a apoiar plenamente as suas ambições, as suas aspirações e os seus esforços”, garantiu Peter Stano.

Metsola enaltece coragem dos moldavos e destaca papel de Sandu

A presidente do Parlamento Europeu enalteceu a “coragem” da população da Moldova, que no domingo votou favoravelmente num referendo à entrada na União Europeia, e agradeceu à Presidente Maia Sandu pelo esforço que mudou “o curso da História”.

“Muito bem, República da Moldova! Obrigado pela vossa coragem”, escreveu Roberta Metsola na rede social X (antigo Twitter).

A líder do Parlamento Europeu também agradeceu a Maia Sandu (pró-ocidental), chefe de Estado da Moldova desde 2020 e que no domingo também disputou a reeleição presidencial, pela “liderança e coragem que alteraram o curso da História”.

“A Europa é Moldova. A Moldova é Europa”, afirmou ainda Metsola.

Rangel diz que sim à UE na Moldova dá “alguma tranquilidade e esperança”

O ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, Paulo Rangel, sublinhou que, “apesar de tudo”, os moldavos disseram sim à integração na União Europeia no referendo de domingo, o que é motivo de “alguma tranquilidade e de alguma esperança”.

“O resultado, apesar de tudo, foi um sim, independentemente de ter havido ou não alguma interferência. Isso é positivo”, disse Rangel, que reconheceu que a influência da Rússia numa parte do território da Moldova causa “profunda perturbação” na “vida democrática normal” do país.

Rangel, que falava com jornalistas portugueses esta segunda-feira em Madrid, disse que o Governo português olha com preocupação os alertas da Presidente da Moldova sobre as interferências da Rússia, mas insistiu em que ter havido uma vitória do sim à integração na União Europeia (UE) no referendo, apesar de tudo, significa que “as coisas podem seguir em frente”.

“E, portanto, penso que isso é motivo de alguma tranquilidade e de alguma esperança, porque o horizonte europeu da Moldova é fundamental para o país, é importante para a União Europeia e penso que é importante também para a região e, em particular, para a Ucrânia”, um país vizinho e atacado militarmente pela Rússia, acrescentou o chefe da diplomacia portuguesa.