"Estão a tentar dividir os moçambicanos (...) Durante as nossas primeiras fases de manifestações, os moçambicanos estavam juntos (...) o patriotismo estava a crescer. O que está a acontecer agora é que o partido que está a governar [Frelimo] está a dividir os moçambicanos", declarou Venâncio Mondlane, durante um direto na sua rede social Facebook.

Mondlane, que lidera a partir do estrangeiro a maior contestação aos resultados eleitorais que Moçambique conheceu desde as primeiras eleições, em 1994, acusa o governo da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo) de ter libertado reclusos da cadeia de máxima segurança em Maputo para "tentar semear medo" entre as comunidades, e associar as manifestações ao "vandalismo e ao terror" para travar os protestos.  

"É um jogo de quem não quer sair do poder e está a organizar todo este esquema para criar um ambiente de terror no meio das pessoas para que as mesmas não exerçam o seu direto de manifestação. (...) os empresários acham que são os manifestantes que destruíram o seu negocio", acrescentou.

Mondlane voltou a manifestar-se aberto ao diálogo, acusando o partido no poder e o chefe de Estado de rejeitar a mediação internacional.

Na tarde de hoje, o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, afastou uma eventual mediação estrangeira para ultrapassar a tensão pós-eleitoral no país, defendendo um diálogo e soluções locais sem "esquemas, arranjos e interesses".

Para Mondlane, a posição do estadista manifesta um desinteresse em resolver a crise que o país atravessa e, consequentemente, as manifestações e paralisações devem continuar.

"As manifestações não vão parar (...) Eles querem nos dividir e a única forma que querem usar é o terror", declarou Mondlane, acusando as forças policiais de estar a "matar inocentes" para instalar a "cultura do medo".

O político moçambicano pediu para que os moçambicanos entoem o hino nacional durante a transição do ano, entre as 23:45 e 00:00, para marcar a união, prometendo avançar, na quinta-feira, com detalhes sobre a próxima fase das manifestações, designada "Ponta de Lança".

"Para nós continuarmos com o nosso objetivo, o povo moçambicano deve voltar a unir-se, tal qual aconteceu nas primeiras fases das manifestações (...) Vamos voltar a dar as mãos e contar o hino nacional (...) Que se cozinhe nas ruas para que voltemos à união como vizinhos", afirmou.

Moçambique vive, desde outubro, uma crise pós-eleitoral marcada por manifestações e paralisações, protestos que têm culminado em confrontos entre polícia e manifestações, com quase 300 mortos, segundo organizações da sociedade civil que acompanham o processo.

O Conselho Constitucional (CC) proclamou em 23 de dezembro Daniel Chapo como vencedor da eleição Presidente da República, com 65,17% dos votos, sucedendo no cargo a Filipe Nyusi, bem como a vitória da Frelimo, que manteve a maioria parlamentar, nas eleições gerais de 09 de outubro.

Este anúncio provocou novo caos em todo o país, com manifestantes pró-Venâncio Mondlane - que obteve apenas 24% dos votos - nas ruas, barricadas, pilhagens e confrontos com a polícia, que tem vindo a realizar disparos para tentar a desmobilização.

Pelo menos 175 pessoas morreram na última semana de manifestações, elevando para 277 o total de óbitos desde 21 de outubro, e 586 baleados, segundo o mais recente balanço feito pela plataforma eleitoral Decide.

 

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