
A sete semanas das eleições, Luís Montenegro inaugurou a ronda dos líderes políticos pelos programas populares da tarde, para recuperar um eleitorado em que aposta desde que chegou à liderança do PSD: os reformados. O primeiro-ministro e líder do PSD foi ao programa da tarde de Manuel Luís Goucha, na TVI, para admitir que poderia ter feito "uma ou outra coisa" de maneira diferente no que respeita à sua polémica empresa familiar Spinumviva, que acabou por levar à queda do Governo. Montenegro admitiu que poderia ter passado diretamente a quota aos filhos, em vez da venda à sua mulher, com quem é casado em comunhão de adquiridos.
"Não tenho problema em admitir que uma ou outra coisa podia ter sido enquadrada de maneira diferente, mas não sou acusado de cometer nenhuma ilegalidade, nem de nenhuma conduta ilícita", afirmou na entrevista a Goucha, referindo-se a um "manto de insinuações" - visando aqui Pedro Nuno Santos, líder do PS - e a "difamações em alguns casos que não tem relação com a realidade".
O primeiro-ministro admitiu que, "se eventualmente tivesse tido um comportamento diferente, podia não estar nesta situação." Luís Montenegro, no entanto, nunca equacionou a possibilidade de fechar a empresa familiar: "Podia ter-me lembrado que estava casado por regime de adquiridos (...). E podíamos ter transmitido [a empresa] diretamente para os filhos e a questão não existia. Podia ter sido essa a melhor opção".
"Fiz o que qualquer português faria no meu lugar", disse Montenegro numa interpelação quase direta aos espectadores, garantindo que "não há nenhuma contaminação recíproca nas duas atividades", do grupo Solverde - seu antigo cliente, que detém uma concessão para explorar casinos - com a política, justificando que "o serviço prestado era numa área que nada tem a ver com a concessão".
Montenegro admite que queria eleições: "Prefiro dois meses para clarificar do que um ano para estragar o que está a ser feito"
Mesmo sabendo que o PS ia votar contra a moção de confiança do Governo - depois de avisos antigos e sucessivos por parte de Pedro Nuno Santos, o líder socialista, e de André Ventura, do Chega - Luís Montenegro insistiu, na entrevista a Goucha, que "ninguém sabe antes de a votação se realizar". E assumiu que neste contexto desejava eleições: "Prefiro dois meses para clarificar uma situação do que um ano para estragar o que está a ser feito".
De forma cândida, o primeiro-ministro disse que apenas procurou saber se a Assembleia da República queria manter o Governo em funções tal como aconteceu quando deixou passar o programa no início do mandato. "Apenas perguntei ao Parlamento se mantinha esta premissa de continuar a Governar. Foi o Parlamento que disse que não", afirmou Montenegro, sem referir que tentou usar a moção de confiança como moeda de troca para o PS desistir da Comissão Parlamentar de Inquérito à empresa Spinumviva.
Segundo Montenegro, a moção de confiança foi uma forma de "trazer a verdade à tona". Para o primeiro-ministro, "as moções de censura foram de alguma forma hipócritas, porque não estavam a consubstanciar a verdade política que estávamos a viver. Assumo esta responsabilidade", acrescentou. Para o líder do PSD, o chumbo da moção de confiança é que clarificou o quadro político: "Prefiro dois meses para clarificar uma situação do que um ano para estragar o que está a ser feito".
"Não posso ser associado a nenhum ato de corrupção. Têm de provar"
No dia em que se soube que o PSD interpôs uma providência cautelar para o Chega retirar os cartazes em que associa a imagem de Luís Montenegro e de José Sócrates a "50 anos de corrupção", o primeiro-ministro apelou na sua entrevista a Manuel Luís Goucha, na TVI, a "uma campanha com elevação", com "espírito democrático", em que os adversários se "respeitam uns aos outros", com o debate colocado nas "soluções", embora admita que se discuta o perfil de cada líder.
"Não tenho problemas que apreciem o que nós somos, ou os meus defeitos, qualidades e características", admitiu Luís Montenegro. Mas ressalvou o caso do Chega, sem mencionar diretamente André Ventura: "Não posso ser associado a nenhum comportamento de corrupção, porque nunca estive associado a nenhum ato de corrupção", afirmou, com um desafio: "Quem disser o contrário, tem de provar", ao colocar uma "imagem na rua que quer dizer isso". E rematou: "Fazer combate à corrupção muito bem. Não podem é associar a minha imagem".