
Ditou a sorte (ou não) que o líder do Chega se despedisse dos debates televisivos frente ao líder da AD-Coligação PSD/CDS, Luís Montenegro. Esta noite na SIC, com moderação de Clara de Sousa, os ex-colegas de partido trocaram várias acusações. Apesar de o tom ter começado ameno, o líder do PSD começou ao ataque, afastando qualquer hipótese de entendimento governativo com o partido de Ventura e elenco até "três razões".
“É impossível governar com o Chega”, afirmou Montenegro, elencando três razões: "O Chega não tem fiabilidade de pensamento, é um catavento. Segundo, o pendor eminentemente destrutivo do partido, que fala mal de tudo o que acontece no país. [Ora], quem está virado apenas para destruir e não consegue construir não tem vocação para governar”. E, em terceiro, porque o Chega "não tem maturidade nem decência" para ser governo.
Como exemplo, Luís Montenegro ‘sacou’ do programa eleitoral do Chega que, avisou, levaria o país para um défice de 14%. Na resposta, André Ventura contra-atacou, acusando o adversário de só querer “muletas como a Iniciativa Liberal e o CDS” e que, garantiu, com o Chega não contará.
“Gostava que tivesse uma governabilidade que fosse mesmo de resolver os problemas das pessoas. O seu Governo foi um desastre nas várias matérias de saúde, de combate à corrupção (...) depois diz que não se pode contar com o Chega. Você não quer contar com ninguém mas digo-lhe cara-a-cara: não contará connosco” e mais, prosseguiu, “chegámos a este cenário - que o senhor provocou - e diz que o André e o Chega não são de confiança?! Você é que não é de confiança”
Acusações à parte, e para fechar o tema de entendimentos ou acordos, Montenegro negou ter sondado alguma vez o Chega para integrar uma solução do Governo. "Como é que é capaz de dizer isso?", questionou Ventura.
Ignorando a questão, o líder da AD lembrou que o adversário não tem, "nem nunca vai ter" lugar no Conselho de Ministros pela postura que assume.
Saúde e acusações
Sem fazer, ao longo do debate qualquer referência ao caso Spinumviva, a aposta de André Ventura foi a Saúde por ter a sensação de que “temos um primeiro-ministro que não sabe o que se passa” e recuperou a ideia da “bandalheira na Saúde”. "Sabe quantas urgências estavam fechadas na Páscoa? 10 e quem é o responsável por isso, o André Ventura? Não".
Mas não se ficou por aqui e atirou para a mesa do debate dados sobre doentes oncólogicos e cirurgias oncológicas e acusou Luís Montenegro, enquanto primeiro-ministro, de ter “retirado os nossos emigrantes, meteu-os em listas paralelas, mas tudo o que é imigrante passa à frente” nos centros de saúde, concluindo com: "O seu Governo é igual ao do PS". Por várias vezes foi interrompido pelo adversário que dizia: “Não é verdade”.
"Não estamos a dizer que está tudo bem. Estamos a recuperar a capacidade do SNS", salientou Luís Montenegro, sublinhando os acordos alcançados com os profissionais de Saúde e com os setores social e privado e que ainda "não chegámos ao final do ano de 2025"
Discordando, Ventura não largou o tema e avisou Montenegro que tem de “tirar os óculos cor-de-rosa de que tudo está tudo bem, de que estamos num país porreiro, de que a Saúde está a melhorar, não convencem ninguém”. O que o Governo faz, acrescentou, é "maquilhar as urgências com a necessidade de ligar: faz algum sentido que uma grávida tenha de ligar? Podem estar a morrer, a ter filhos, a ter um acidente, mas ligue. Isso não é lealdade, isso é governar mal".
Questionado sobre quais as soluções que tem para o setor, o líder do Chega limitou-se a referiri "a sinergia entre público e privado" e “coragem de olhar olhos nos olhos para os cargos de boys à frente do SNS”, prometendo que se o Chega for governo corre “com a malta que só está a sacar dinheiro dos nossos impostos”.
Rosa, a cor do debate
Evitando interromper ou responder (no mesmo tom) às acusações do adversário, Montenegro disse apenas que “André Ventura não sabe o que diz" e convive “mal com a verdade” mas, vincou, gosta disso.
“A sua utilidade é a mesma quer tenha 1 deputado ou 50”, afirmou Luís Montenegro, dirigindo uma palavra aos eleitores do Chega: "Têm um caminho de esperança na AD".
Na resposta, Ventura voltou a recorrer à ideia de que "votar no PS ou no PSD é a mesma corrupção, são os mesmo boys, os mesmos salários miseráveis. Consigo, há ainda mais tachos pelo país todo, é ainda mais grave do que com o PS. Qual foi a sua diferença para a António Costa? Só os olhos azuis, de resto é a mesma coisa".
A propósito ex-secretário-geral do PS, Luís Montenegro chamou a atenção para a cor da gravata de Ventura - cor-de-rosa - que denuncia a "aliança" do Chega ao PS. Apesar de admitir que "houve necessidade", durante a legislatura que agora termina, de fazer acordos com os socialistas, defendeu que foi apenas para "melhorar a vida das pessoas".
“André Ventura veste hoje uma gravata muito condizente com a que foi a sua ação política este ano”
Nos últimos minutos do debate, que se alongou, Luís Montenegro recuperou o tema do programa eleitoral, que projeta um crescimento económico “com prudência”, apesar dos excedentes serem limitados, e aproveitou para repetir que o do Chega apresenta "um impacto de 40 mil milhões de euros". resta saber “onde vai [André Ventura buscar a sustentação do programa económico”.
Na resposta, o líder do Chega disse que será através de “uma auditoria completa às despesas do Estado”.