Para além dos seus papéis de dobragem, como o lendário vilão da saga Star Wars ou Mufasa em "O Rei Leão", o ator afro-americano é reconhecido pela sua longa carreira tanto no grande ecrã como nos cinemas.
No entanto, nada o predestinou para se tornar numa das vozes mais emblemáticas da história do cinema: até aos 8 anos, o jovem James Earl Jones mal falava devido a uma forte gaguez.
"A gaguez é dolorosa. No catecismo, estava a tentar ler as lições e as crianças atrás de mim rebolavam no chão de tanto rir", contou ao Daily Mail, em 2010.
Nascido em 1931 no Mississipi, um Estado segregacionista do sul, James Earl Jones mudou-se com a família para Michigan, no norte dos Estados Unidos, aos 5 anos.
Recupera finalmente o controlo da fala graças à recitação de poemas, por iniciativa do seu professor de Inglês, ele próprio poeta.
No entanto, o jovem ainda não considera uma vocação artística, mas sim estudar medicina, ou seguir a carreira militar.
Depois de completar o seu serviço no Exército dos EUA como tenente, mudou-se para Nova Iorque em meados da década de 1950 para tentar tornar-se ator, enquanto à noite trabalhava como porteiro. "Limpei algumas casas de banho", destacou à rádio NPR, em 2014.
O ator estreou-se na Broadway em 1958 com a peça "Sunrise at Campobello" no Cort Theatre, rebatizado James Earl Jones Theatre em 2022.
Entre 1961 e 1964, representou em Nova Iorque em "The Blacks", uma peça de Jean Genet, ao lado da poetisa Maya Angelou.
O seu primeiro papel no cinema surgiu com "Doutor Strangelove", de Stanley Kubrick, onde interpretou o Tenente Zogg a bordo de um bombardeiro B-52.
O tema militar será frequentemente recorrente na sua filmografia, nomeadamente através do seu papel de Almirante Greer na saga cinematográfica "Jack Ryan", ou mesmo de sargento-mor em "Stone Gardens" de Francis Ford Coppola em 1987.
O seu primeiro reconhecimento na indústria surgiu em 1969, com a vitória nos Tony Awards, prémios do teatro americano, pelo papel principal na peça "O Insurgente".
Conta a história verídica de Jack Johnson, o primeiro pugilista afro-americano campeão e da "grande esperança branca" esperada pelo público branco norte-americano para o destronar.
Sucesso de crítica, a peça foi adaptada para filme no ano seguinte. James Earl Jones repete o papel de Jack Johnson e a sua prestação valeu-lhe uma nomeação ao Óscar e um Globo de Ouro.
Ao todo, o ator foi nomeado quatro vezes para os Tony Awards entre 1969 e 2012, e ganhou dois, além de um Tony especial para toda a sua carreira em 2017. O cinema distinguiu-o ainda em 2011 com um Óscar de honra.
No entanto, no seu papel mais icónico, nunca surgiu no ecrã. George Lucas, o criador de Star Wars, escolheu-o, depois de considerar Orson Welles, para interpretar a voz daquele que viria a ser o vilão mais famoso da história do cinema, Darth Vader.
"O George queria uma voz mais sombria. Então contratou um tipo que nasceu no Mississipi, cresceu no Michigan, tinha gaguez e essa voz era eu", salientou James Earl Jones numa entrevista, em 2009, ao American Film Institute.
O ator inicialmente não queria que o seu nome aparecesse nos créditos dos primeiros episódios de Star Wars, acreditando que o seu trabalho se assemelhava mais a efeitos especiais, e preferindo que o reconhecimento fosse para o ator por detrás da máscara, David Prowse, segundo a revista especializada Far Out.
Entre os seus outros papéis de destaque está o do Rei Jaffe Joffer em "Um Príncipe em Nova Iorque", ou o vilão Thulsa Doom em "Conan, o Bárbaro".
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