O Prémio Nobel da Literatura foi hoje atribuído à escritora sul-coreana Han Kang "pela sua intensa prosa poética que confronta traumas históricos e expõe a fragilidade da vida humana”, anunciou a Real Academia Sueca de Ciências, em Estocolmo.

Han Kang "tem uma noção única das ligações entre o corpo e a alma, os vivos e os mortos, e no seu estilo poético e experimental, tornou-se uma inovadora na prosa contemporânea”, disse Anders Olsson, presidente do Comité Nobel.

É a primeira sul-coreana a ganhar o Nobel da Literatura. Iniciou a sua carreira em 1993 com a publicação de uma série de poemas na revista Literature and Society, enquanto a sua estreia em prosa ocorreu em 1995 com a coletânea de contos "Love of Yeosu".

O seu sucesso internacional aconteceu com o romance “A Vegetariana”, de 2007, com o qual venceu o Man Booker International Prize em 2016.

Voltaria a ser finalista deste prémio em 2018 com "O Livro Branco". "Atos Humanos" deu-lhe distinções na Coreia do Sul e em Itália. Estes livros, assim como Lições de Grego estão editados em Portugal.

Temporada Nobel 2024

Este é o quarto dos Prémios Nobel a ser anunciado este ano, depois de ontem ter sido entregue o da Química, na terça-feira o da Física e na segunda-feira o da Medicina aos cientistas norte-americanos Victor Ambros e Gary Ruvkun pela descoberta dos microRNA. Amanhã, sexta-feira será conhecido o nome do novo Nobel da Paz.

O último anúncio será feito no dia 14 de outubro com o vencedor do Nobel da Economia.

Os vencedores dos prémios Nobel vão receber 11 milhões de coroas suecas (cerca de 920 mil euros). O galardão pode ser atribuído a um máximo de três laureados que partilham o montante do prémio.

A cerimónia de entrega dos prémios decorrerá em dezembro na Suécia.

Curiosidades sobre os Prémios Nobel

Os prémios Nobel nasceram da vontade do cientista e industrial sueco Alfred Nobel (1833-1896) em legar grande parte de sua fortuna a pessoas que trabalhem para “o benefício da humanidade”.

Um erro na origem dos prémios?

Em 12 de abril de 1888, o irmão mais velho de Alfred Nobel, Ludvig, morreu em Cannes, França. Mas o Le Figaro engana-se e anuncia na primeira página a morte de Alfred: "Um homem que dificilmente pode ser considerado um benfeitor da humanidade morreu ontem em Cannes. O senhor Nobel, inventor da dinamite".

Este obituário prematuro terá atormentado Alfred Nobel e terá sido a razão para a criação dos prémios. Talvez por isso Nobel tenha escrito que os prémios distinguiriam aqueles que trabalharam “em benefício da humanidade”.

Prémio apenas para pessoas vivas

Desde 1974, os estatutos da Fundação Nobel estipulam que um prémio não pode ser concedido postumamente, a menos que a morte ocorra após o anúncio do nome do vencedor.

Até então, apenas duas personalidades falecidas foram recompensadas: o poeta sueco Erik Axel Karlfeldt (literatura em 1931) e o secretário-geral da ONU Dag Hammarskjöld, que foi assassinado (Nobel da Paz em 1961).

Uma vez o Nobel não foi concedido em homenagem a um vencedor falecido. Foi em 1948, após a morte de Gandhi.

Uma fortuna em troca de uma medalha Nobel

Os Prémios Nobel consistem numa soma de 11 milhões de coroas por categoria (cerca de 920.000 euros) e uma medalha de ouro de 18 quilates.

Jacquelyn Martin / AP

Mas o vencedor do Nobel da Paz de 2021, o jornalista russo Dmitry Muratov, conseguiu transformar ouro em fortuna, em benefício das crianças ucranianas. Em junho, a medalha de 196 gramas recebida pelo co-vencedor de 2021 foi vendida por 103,5 milhões de dólares a um filantropo anónimo, valor que foi doado à UNICEF.

Um Nobel pioneiro em 1903 sobre o aquecimento global

O físico e químico sueco Svante Arrhenius recebeu o Nobel da Química em 1903 pela sua "teoria eletrolítica da dissociação".

Mas foi outro trabalho que lhe valeu o estatuto de pioneiro: no final do século XIX, foi o primeiro a teorizar que a combustão de combustíveis fósseis - na época, especialmente o carvão - lançava CO2 para a atmosfera causando o aquecimento do planeta. Segundo os seus cálculos, a duplicação da concentração de dióxido de carbono aqueceria o planeta em 5°C - os modelos modernos preveem de 2,6 a 3,9°C. Longe de suspeitar as quantidades cada vez maiores de combustíveis fósseis que a humanidade viria a consumir, Arrhenius subestimou a velocidade a que esse nível será alcançado e previu que esse aquecimento ocorreria em 3.000 anos.