O novo primeiro-ministro francês, Michel Barnier, destacou esta sexta-feira que quer controlar os fluxos migratórios no país e alertou para a situação "extremamente grave" do défice orçamental.

Na primeira entrevista após a tomada de posse na quinta-feira, o conservador Barnier revelou ainda que quer abrir um debate sobre "a melhoria" da polémica reforma das pensões do ano passado, mas sempre "dentro do quadro orçamental".

O novo chefe do Governo francês garantiu ao canal TF1 que pretende incluir no seu futuro executivo membros da sua família política, Os Republicanos, mas também do 'macronismo' e "gente de esquerda".

"O sectarismo é uma forma de fraqueza", realçou.

A sobrevivência do Governo de Barnier dependerá da extrema-direita liderada por Marine Le Pen, que por enquanto lhe deu o benefício da dúvida.

O primeiro-ministro indicou que se vai reunir com Le Pen, bem como com outros líderes de grupos parlamentares, mas tentou distanciar-se dela.

Embora tenha deixado claro que não tem "muito em comum" com Le Pen, reconheceu o seu respeito pelos onze milhões de cidadãos que votaram no seu partido nas recentes eleições legislativas, garantindo que "a sua voz conta".

Quem é Michel Barnier? O conservador que vai governar a França e que a esquerda vai tentar derrubar

Após 60 dias de impasse, na sequência das eleições legislativas de julho, que deram origem a uma Assembleia Nacional muito fragmentada, o primeiro-ministro mais velho da V República - o sistema político em vigor em França desde 1958 -, de 73 anos, sucedeu a Gabriel Attal, de 35 anos, o mais novo.

Barnier garantiu que não precisava do cargo pela idade que tem, mas sublinhou que aceitou o convite do Presidente, Emmanuel Macron, devido à situação política difícil que o país vive.

Perante esta situação, Barnier quer utilizar a sua "capacidade de negociação", defendendo que a sua experiência política como ministro em três ocasiões, comissário europeu em outras duas ocasiões e negociador da União Europeia (UE) para o Brexit, demonstra essa capacidade.

Quanto às prioridades do seu programa, que terá de apresentar às duas câmaras do Parlamento, garantiu que "não há linhas vermelhas".

Questionado expressamente sobre a imigração, tema sobre o qual solicitou uma moratória no seu programa das primárias do seu partido para as eleições presidenciais de 2022, Barnier disse que há "a sensação de que as fronteiras são drenos e que os fluxos imigratórios não são controlados".

Perante isto, quer optar por um "vigoroso controlo migratório" através de "medidas concretas".

Referiu ainda outras prioridades, como aumentar os salários ou melhorar os serviços públicos.

O controlo das finanças públicas será um ponto chave, com o défice público que ameaça subir para 5,6% do PIB este ano apesar das inúmeras medidas de controlo que o anterior executivo aplicou depois dos 5,5% em 2023.

"A situação é extremamente grave", admitiu Barnier, abertamente, uma vez que a França já está sujeita a um procedimento da Comissão Europeia por défice excessivo, aberto este ano.

Questionado sobre se prevê um aumento de impostos, que incidiria sobre os mais ricos, uma vez que a classe média já enfrenta uma forte pressão fiscal, Barnier garantiu que não descarta "uma maior justiça fiscal".

Oriundo de um partido diferente de Macron, Barnier fez um voto de independência, dizendo que "o presidente presidirá e o governo governará".


Com LUSA