O ministro da Defesa garantiu hoje que o aumento do investimento em defesa não se traduzirá em cortes no Estado social em áreas como a habitação ou a saúde, classificando como "vendedores de demagogia" os que defendem essa dicotomia.

"Este investimento [na defesa] só pode prosseguir, e, voltando aos que vendem demagogia, quando se querem resolver problemas e argumentam com a alternativa entre a saúde ou a habitação ou a educação e a defesa, eu gostava de dizer que um país que se tenha soberano e tenha na defesa uma das suas primeiras expressões de soberania, nada tem que ser visto em alternativa", defendeu Nuno Melo.

A posição foi assumida pelo ministro da Defesa no discurso de abertura de uma conferência sobre defesa nacional organizada pelo Diário de Notícias na Academia Militar, na Amadora.

Nuno Melo garantiu que o aumento do investimento da defesa não põe em causa o equilíbrio orçamental, "o bom desempenho da economia" e as proteções sociais, mas acrescentou que Portugal, como membro da NATO, deve honrar os seus compromissos.

Portugal deve garantir o investimento de pelo menos 2% do PIB em defesa até 2029 - uma meta que, como já disse o primeiro-ministro, o Governo pretende ver antecipada, acrescentou.

"Gostava de dizer que em tempos de guerra, como em tempos de paz, realmente as Forças Armadas não são um capricho. As Forças Armadas são a primeira expressão de soberania, são a última fronteira da nossa independência", sustentou.

O ministro da Defesa disse não estar em causa "dinamitar o que seja" no Estado social - como defendem os "vendedores de demagogia" -, argumentando que, atualmente, as verbas previstas para defesa no Orçamento do Estado são bastante inferiores às da segurança social, saúde, educação ou saúde.

Nuno Melo abordou ainda o que chamou de "aligeiramento do papel" do Estados Unidos na NATO enquanto "transfere parte da sua atenção geoestratégica para o Indo-pacífico", acrescentando que "não pode levar verdadeiramente a mal" essa mudança dada a relevância das economias asiáticas.

Apesar disso, salientou que o país deve "à NATO mais de 75 anos de paz" e que "prescindir da NATO agora, quanto tudo é mais incerto e sombrio" não seria "particularmente inteligente", acrescentando que não confunde "uma administração com uma nação" e que é preciso "conceder que, nos últimos anos, a Europa esteve longe de assegurar o cumprimento de compromissos que assumiu".

O responsável pela pasta da Defesa defendeu que a necessidade de Portugal investir mais em defesa não deve ser compreendido como um problema, mas como um "momento histórico" e uma "oportunidade" que o país "não pode desperdiçar".

"Portugal tem que estar à altura e à dimensão do seu tempo e daquilo que nos é pedido. Seria imperdoável que não fôssemos capazes de, a par, aproveitar tudo aquilo que nos é pedido. E se a primeira certeza que devemos ter é que precisamos da NATO, eu pelo menos tenho essa certeza", disse.

Nuno Melo reiterou ainda a necessidade do fortalecimento do pilar europeu da defesa atlântica, sublinhando que os países europeus precisam de "produzir muito mais na Europa e comprar muito mais na Europa" e assegurando que Portugal fará parte dessa mudança.

"Só assim podemos garantir uma partilha de encargos mais equitativa por um lado, equilibrar a balança transatlântica por outro, mas também contribuir para a autonomia estratégica da própria União Europeia. Significa que a defesa tem de passar a fazer parte do Estado Espírito Europeu. E começa a fazer", concluiu.