George Wright chegou a Portugal nos anos 70, usando o nome Jack Ragland. Quando se abriu com a namorada portuguesa, Rosário Valente, não contou que era procurado pelo FBI por ter desviado um avião, com um milhão de dólares de resgate. Disse-lhe que se tinha envolvido num homicídio e fugido da cadeia. Ela pensou que ele se estava a armar em “mauzão”. Afinal, era verdade.
Em 1962, assaltou uma bomba de gasolina, juntamente com dois amigos com cadastro. A vítima resistiu e acabou por ser fatalmente baleada. Wright não disparou, mas participou. Tinha então 19 anos.
Um miúdo divertido que frequentava a igreja
Nascido em Halifax, na Virgínia, EUA, era um miúdo divertido, que frequentava a Igreja e tinha bom percurso escolar. O que se terá passado para ter abandonado o curso universitário de educação física e mudar-se para Nova Jérsia, onde passou a trabalhar como ajudante de cozinha e a lidar com delinquentes?
“Andou com más companhias”, sentenciou o juiz, que o condenou por homicídio a uma pena de 15 a 30 anos de prisão.
Em 1970, ao fim de 7 anos, acompanhado de outros três reclusos, conseguiu fugir da cadeia, uma espécie de quinta prisional, com um nível de segurança baixo. Dirigiram-se ao carro do diretor e um dos fugitivos, mecânico, fez uma ligação direta e escaparam com facilidade.
A ligação aos Black Panthers
A partir daí, George Wright fez-se à estrada. Andou por Atlantic City e depois Nova Iorque, até chegar a Detroit, onde teria mais possibilidades de encontrar trabalho clandestino e não ser reconhecido. Passou então a dividir casa com uma namorada (que tinha uma filha de 2 anos), outro dos fugitivos da cadeia e um casal (com duas crianças) que também tinha problemas com a justiça.
Foi nesta altura que ele afirma ter-se ligado aos Black Panthers, o grupo armado que lutava pelos direitos dos negros e que J. Edgar Hoover, então diretor do FBI, considerava uma das maiores ameaças à segurança interna dos EUA.
A suposta ligação aos Black Panther não terá passado de um pretexto para o que se seguiria. Wright e os amigos viviam encurralados entre o medo da polícia e as dificuldades financeiras de uma vida na clandestinidade. Quando leram no jornal que um casal havia desviado um avião para a Argélia, com um resgate de meio milhão de dólares, decidiram fazer o mesmo.
O desvio de um avião com um milhão de dólares de resgate
A 31 de Julho de 1972, George Wright vestiu-se de padre, meteu uma pistola dentro de uma Bíblia e embarcou num voo Detroit-Miami, com os dois homens, as duas mulheres e as três crianças com quem vivia. Nessa época não existiam ainda detetores de metais nos aeroportos.
À chegada a Miami, entrou no cockpit e, sob a ameaça de armas, exigiu um milhão de dólares, em troca da libertação dos 86 passageiros.
Ao fim de três horas de negociação, saíram vitoriosos. O agente do FBI que lhe foi entregar a mala com um milhão de dólares teve de vestir um fato de banho justo para não esconder nenhuma arma e os passageiros foram finalmente libertados. O avião, com a tripulação sequestrada, seguiu então para a Argélia.
Só 40 anos depois é que o FBI o viria a descobrir. Vivia tranquilamente em Portugal e tinha um novo nome: Jorge Santos.