Sem esquecer os 50 anos do 25 de Abril, o primeiro-ministro português confessou-se “esperançoso” apesar do “peso da responsabilidade” de um momento de desafios e crises globais, sobretudo na Ucrânia e no Médio Oriente.

Destacou o “incansável trabalho” de António Guterres enquanto secretário-geral da ONU, a quem expressou o “pleno apoio” de Portugal.

E se considerou que a paz deve ser o objetivo principal da ONU, não deixou de apontar o dedo à comunidade internacional, que acusou de não ter sido capaz de resolver conflitos “que se prolongam por décadas” nem de evitar novos focos de tensão.

A guerra na Ucrânia e o conflito no Médio Oriente

Montenegro condenou “de forma veemente” a agressão da Rússia contra a Ucrânia e lamentou os efeitos negativos desta guerra: a crise alimentar, energética e inflacionista que se alastrou pelo mundo inteiro.

Pediu uma limitação e maior escrutínio ao direito de veto - questão que já tinha sido levantada ontem por Zelensky em relação à Rússia - para evitar que “uma parte num conflito se constitua simultaneamente como juiz e julgado”.

Susan Walsh

Criticou ainda o silêncio do Conselho de Segurança em relação a esta guerra e apelou a que as Nações Unidas possam ter um papel mais ativo agora com a escalada do conflito no Médio Oriente, com o qual também manifestou profunda preocupação.

Disse “condenar firmemente os horríveis ataques terroristas” levados a cabo pelo Hamas a 7 de outubro de 2023, exigindo, para além da libertação dos reféns, que cessem todas as hostilidades, de forma a que também seja possível a entrada de ajuda humanitária em Gaza.

Luís Montenegro reafirmou apoio à solução de dois Estados, que considerou ser a única que poderá “trazer paz e estabilidade à região”.

“É imperativo cessar incondicionalmente as hostilidades, garantir a entrada de ajuda humanitária e o respeito pelo Direito Internacional Humanitário. É igualmente imperativo retomar negociações com vista à implementação da solução dos dois Estados – a única que poderá trazer paz e estabilidade.”

“Combate sem tréguas” à discriminação e ao ódio

Parte do discurso foi ainda dedicada a apelar a um “combate sem tréguas” a todas as formas de discriminação e de ódio que “minam as sociedades”, sobretudo o desrespeito pelos direitos das mulheres e as “perseguições por motivos religiosos ou sexuais” que têm vindo a acentuar-se.

Sobre as alterações climáticas, classificou-as como uma “ameaça existencial” para a qual garantiu um Portugal “empenhado”.

“Portugal mantém-se empenhado em investir em energias renováveis e na supressão dos combustíveis de origem fóssil. Queremos incorporar 47% de renováveis no consumo final de energia até 2030”, revelou.

Português como língua oficial da ONU

Num discurso de pouco mais de 15 minutos, ainda houve tempo para reforçar a candidatura de Portugal a um lugar de membro não-permanente do Conselho de Segurança, para o biénio 2027-2028, e para manifestar a vontade de ver a língua portuguesa reconhecida como língua oficial das Nações Unidas.

“O caminho que temos pela frente é árduo e incerto, mas o objetivo está traçado. Iremos trilhá-lo com esperança e confiança. Nesta trajetória, as Nações Unidas e a comunidade internacional podem contar com Portugal”, concluiu.