Nos últimos dias, o Bangladesh tem registado inúmeros confrontos que envolvem forças policiais e estudantes. O mais recente balanço confirma a morte de pelo menos 32 pessoas e outras centenas de feridos. Grupos de estudantes têm se manifestado para exigir reformas no sistema de quotas que rege a distribuição de empregos na função pública.

Esta semana os protestos estudantis intensificaram-se. Na terça-feira, pelo menos seis pessoas morreram, em atos de violência em todo o país, quando estudantes entraram em confronto contra outros alunos pró-governo e com a polícia.

Vários relatos confirmam que as forças policiais recorreram a gás lacrimogéneo e balas de borracha para afastar os manifestantes.

Na sequência destes conflitos, o Governo do Bangladesh ordenou o encerramento de escolas e apelou a que as instituições universitárias fizessem o mesmo. Esta quinta-feira, o Governo ordenou também o encerramento da rede de internet móvel em todo o país.

No mesmo dia, manifestantes incendiaram a sede do principal canal público de televisão do Bangladesh, a BTV e várias pessoas ficaram presas no interior do edifício.

Quem pode beneficiar do sistema de quotas criticado pelos estudantes?

Há várias semanas que estudantes promovem manifestações quase diárias contra o Governo do Bangladesh. O sistema de quotas destina-se a reservar mais de metade dos postos de funcionários bem remunerados e muito requisitados a determinadas categorias da população, uma medida que os estudantes consideram discriminatória.

Segundo este sistema, 30% destes cargos seriam reservados às crianças que se envolveram na Guerra de Independência de Bangladesh em 1971, hoje na idade adulta, 10% para as mulheres e 10% para distritos específicos.

Os manifestantes defendem que apenas se deveriam manter as quotas destinadas às minorias étnicas e às pessoas deficientes que representam cerca de 6% dos lugares. Acusam também o sistema de estar organizado de forma a beneficiar os filhos dos apoiantes da primeira-ministra Sheikh Hasina.

O que desencadeou a revolta estudantil?

As manifestações começaram no mês passado, depois do Supremo Tribunal do Bangladesh ter restabelecido o sistema de quotas. Em 2018, cerca de sete anos antes, o Governo da atual primeira-ministra, Sheikh Hasina, tinha proposto eliminar este sistema de atribuição dos cargos na função pública.

Quando os estudantes se começaram a manifestar com maior intensidade, Sheikh Hasina terá chamado aos manifestantes de "razakar". Este termo, utilizado durante o conflito que visava a independência do Bangladesh, destinava-se àqueles que tinham como intenção trair o país, como explica a Reuters.

O Bangladesh enfrenta uma grave crise associada ao desemprego jovem que afeta cerca de 32 milhões de pessoas num país onde a população ronda os 170 milhões. O sistema implementado reduz o número de cargos disponíveis e faz aumentar ainda mais os desafios que os jovens enfrentam para tentar arranjar emprego.

Com Lusa