
A representante especial da ONU para a Líbia alertou hoje para o aumento do discurso de ódio "xenófobo e racista" no país, que incita à violência contra imigrantes, requerentes de asilo, refugiados e organizações humanitárias.
Numa reunião do Conselho de Segurança da ONU focada na situação na Líbia, Hanna Tetteh - que desde o início do ano chefia também a missão de apoio da ONU no país (Unsmil) - denunciou que uma das "consequências trágicas" das instituições divididas da Líbia "é o vazio em que atores armados perpetram violações dos direitos humanos impunemente".
No primeiro relatório ao Conselho de Segurança, a diplomata ganesa disse que a divisão da Líbia entre dois Governos que oscilam entre guerra aberta e tréguas frágeis deu abertura para a propagação do discurso de ódio, frisando que os ataques a migrantes - vistos como uma ameaça - levaram a crises de segurança, manifestações, detenções em massa e um tiroteio fatal.
Face a esse cenário, as atividades de algumas organizações humanitárias foram suspensas e os funcionários interrogados, uma situação que levou à obstrução do fornecimento de suporte vital no país e resultou na "morte de três pessoas", disse a líder da Unsmil.
"Reconhecemos as recentes discussões entre o Governo e a ONU para abordar a situação e encorajamos todos os intervenientes políticos a adotarem uma abordagem mais abrangente para lidar com o tráfico de migrantes e a proteger o espaço humanitário", afirmou Tetteh, salientando ser "necessário pôr fim a esses ataques".
À situação dos imigrantes, soma-se ainda a perseguição de oponentes políticos, com detenções arbitrárias a serem vistas como comuns na Líbia, denunciou Hanna Tetteh.
Centenas de pessoas estão "detidas ilegalmente", sem direito a um julgamento justo, avançou.
Desde a queda de Muammar Khadaffi em 2011, a Líbia está dividida em duas, com um Governo em Trípoli e outro em Benghazi, que ocasionalmente se envolvem em conflitos.
O país tornou-se um canal de contrabando de armas e uma rota privilegiada para a imigração ilegal, mas milhares daqueles que esperam chegar à Europa acabam presos em território líbio, muitos em centros ilegais administrados por máfias com a conivência ou passividade de ambos os Governos.
Hanna Tetteh afirmou que as prolongadas divisões institucionais e políticas na Líbia, somadas a "ações unilaterais prejudiciais" e à "luta pelo controlo dos recursos por parte de alguns privilegiados", mantêm reféns as aspirações e as necessidades do povo líbio.
"O gasto excessivo dos vastos recursos da Líbia na ausência de um orçamento nacional acordado pode levar a um colapso económico se não for resolvido. Isto apesar do facto de os recursos do país poderem providenciar adequadamente a segurança, a proteção e o bem-estar dos cidadãos", sublinhou a enviada da ONU.
Ao reconhecer que os Estados-membros da ONU "têm interesses diversos na Líbia", a diplomata insistiu que a comunidade internacional deve colaborar num plano unificado para apoiar um Estado democrático que sirva as necessidades fundamentais do povo líbio e promova o crescimento económico e o desenvolvimento equitativo.
"A inação será mais prejudicial do que o custo da mudança", concluiu.