As novas autoridades sírias lançaram esta quinta-feira uma operação no oeste do país contra milícias leais a Bashar al-Assad, após os confrontos de quarta-feira em que morreram 14 elementos das forças de segurança dos grupos islamitas que tomaram o poder no país do Médio Oriente.
Pelo menos três pessoas morreram na operação de hoje, segundo o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH), citado pela AFP.
A operação decorre na província costeira de Tartous (oeste), o bastião da minoria alauita de onde provém o Presidente deposto, derrubado a 8 de dezembro por uma coligação de rebeldes liderada pelo grupo radical islâmico Hayat Tahrir al-Sham (HTS).
Permitiu “neutralizar um certo número” de membros de “milícias” leais a Bashar al-Assad, indica a agência de notícias oficial Sana. O objetivo é “restaurar a segurança, a estabilidade e a paz civil” nesta região costeira.
O Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH) deu conta de “três mortos” nesta operação, especificando que as vítimas pertenciam às fileiras dos “combatentes leais ao antigo regime”.
Confrontos com homens armados ligados ao anterior regime
Pelo menos 14 elementos das forças de segurança, ligadas aos grupos islamitas que tomaram o poder no país do Médio Oriente, foram mortos na quarta-feira em confrontos com homens armados ligados ao anterior regime.
"Catorze membros do Ministério do Interior foram mortos e outros 10 feridos após (...) uma emboscada velhaca montada por antigos membros do regime criminoso" na província de Tartus (oeste), "enquanto cumpriam as suas tarefas de manutenção da ordem e segurança", afirmou o novo ministro do Interior, Mohammed Abdel Rahman, em comunicado.
O Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH) elevou um anterior balanço de nove mortos no incidente, e aponta agora para 17 vítimas mortais - 14 entre as forças de segurança e três entre homens armados - nos confrontos durante uma tentativa de prender um alto responsável do anterior regime, em Tartus.
A ONG, baseada no Reino Unido e com uma extensa rede de fontes na Síria, indicou que o homem procurado, antigo diretor da justiça militar, foi acusado de ser "um dos responsáveis pelos crimes na prisão de Saydnaya (perto de Damasco)", um dos principais cárceres do antigo regime e onde milhares de pessoas sofreram maus tratos e encontraram a morte.
Os combatentes eram do Hayat Tahrir al-Sham, ou HTS, que liderou a impressionante ofensiva que derrubou o Presidente Bashar al-Assad no início deste mês.
Desde a queda de Assad, dezenas de sírios foram mortos em atos de vingança, segundo ativistas e monitores, a grande maioria deles pertencentes à comunidade minoritária alauita, uma ramificação do Islão xiita à qual Assad pertence.
Também segundo o OSDH, um manifestante foi morto hoje em Homs, no centro da Síria, depois de as forças de segurança terem aberto fogo para dispersar sírios alauitas que protestavam contra um ataque a um dos seus santuários.
"Um manifestante foi morto e outros cinco ficaram feridos depois de as forças de segurança em Homs terem aberto fogo para dispersar os manifestantes", disse o diretor do Observatório Sírio dos Direitos Humanos, Rami Abdel Rahmane.
Manifestações da minoria alauita
Milhares de sírios da minoria alauita manifestaram-se em várias cidades da Síria, depois da divulgação de um vídeo que mostra um ataque a um dos seus santuários.
Perante estas manifestações, as autoridades sírias declararam o recolher obrigatório em Homs e Jableh, entre o final da tarde e o início da manhã de quinta-feira, para tentar conter os efeitos dos protestos.
O OSDH relatou manifestações de larga escala da minoria alauita em várias cidades da Síria, após a divulgação de um vídeo nas redes sociais que mostra um ataque a um dos seus santuários.
As autoridades sírias garantem que o vídeo de um ataque a um santuário alauita -- que está na origem das manifestações que eclodiram quarta-feira em várias cidades - era antigo e datava da "libertação de Alepo" por fações islâmicas armadas no início de dezembro.
"O objetivo de voltar a fazer circular estas imagens é o de semear a discórdia entre o povo sírio (...) num momento delicado que a Síria atravessa", comentou o Ministério do Interior, em comunicado, acusando "grupos desconhecidos" de estarem por trás do ataque ao santuário alauita.
As novas autoridades sírias estão a aumentar as medidas de segurança para com todas as minorias num país traumatizado pela guerra.
Em Jableh, os manifestantes gritavam "Alauitas, sunitas, queremos a paz" e imagens destas iniciativas mostram uma multidão a marchar na rua, agitando a bandeira dos rebeldes da era da independência.
"Não ao incêndio de lugares sagrados e à discriminação religiosa, não ao sectarismo, sim a uma Síria livre", lia-se num cartaz.
Em Latakia, os manifestantes denunciaram "violações contra a comunidade alauita", segundo Ghidak Mayya, um manifestante de 30 anos.
"Neste momento estamos a ouvir pedidos de calma (...) Mas a situação pode explodir", reconheceu este manifestante.
Depois de Bashar al-Assad ter fugido para Moscovo, na sequência da ofensiva rebelde, os membros da minoria alauita saudaram a sua queda, mas disseram temer a marginalização, ou pior, represálias.