
Regras rígidas, absoluto segredo, assim se escolhe um novo Papa e o mesmo acontecerá com o substituto de Francisco, que será eleito entre os 135 membros do Colégio Cardinalício com menos de 80 anos, incluindo quatro portugueses.
A eleição no Conclave (do latim 'cum clavis' ou fechado à chave) está definida até aos mais ínfimos pormenores na Constituição Apostólica Universi Dominici Gregis, revista por João Paulo II em 1996, e é secreta.
O sistema de fechar os cardeais iniciou-se no Concílio Lyon II (1274), convocado pelo Papa Gregório X, e hoje os também designados "príncipes da Igreja" estão proibidos de trocar cartas, mensagens ou telefonar a alguém do exterior, assim como de ler jornais, ouvir rádio ou ver televisão enquanto durar a reunião, para evitar pressões.
A obrigação de manter segredo estende-se a todos os funcionários do Vaticano que servem os cardeais neste período ou que têm acesso aos locais em que se encontram e quem violar as regras será castigado, podendo mesmo ser expulso da Igreja Católica.
A assembleia dos cardeais eleitores - que se inicia entre 15 e 20 dias após a morte ou resignação do anterior chefe da Igreja Católica para dar tempo a todos os participantes de chegarem a Roma - é precedida da missa "Pro eligendo Pontifice" (para a eleição do Pontífice), na qual os cardeais pedem apoio espiritual na escolha do novo Papa.
Na tarde desse dia, os prelados dirigem-se em procissão solene para a Capela Sistina, onde decorre a reunião, invocando com o cântico "Veni Creator Spiritus" (Vem Espírito Criador) a assistência do Espírito Santo.
No local do escrutínio, um por um e numa sequência predeterminada, juram com a mão direita sobre a Bíblia manter segredo sobre as discussões relativas à eleição, antes de se sentarem nos lugares que ocuparão durante o Conclave.
Os cardeais terão ainda de ouvir um discurso sobre a escolha que vão fazer e esperar que o eclesiástico que o fez e o Mestre das Celebrações Pontifícias abandonem a sala à ordem deste "Extra omnes" (Todos fora, os que não participam no escrutínio).
As portas da sala são fechadas, ficando sob a proteção da Guarda Suíça, o exército do Vaticano, e os cardeais podem então a sós dar início à eleição.
Antes da realização do Conclave, todos os elementos do Colégio Cardinalício, atualmente 252, terão discutido o estado da Igreja e definido o perfil do novo Papa, que deverá ser um bom "pastor de almas", teólogo e diplomata, além de falar várias línguas, em primeiro lugar o italiano, a língua oficial do Vaticano.
Os cardeais não podem declarar-se candidatos, só podendo ser considerados como tal pelos seus pares durante a eleição, e também não lhes é permitido chegarem a acordos ou fazerem promessas, absterem-se ou votarem em si mesmos.
Para que seja eleito o novo Papa é precisa uma maioria de dois terços, estando prevista a realização de duas votações de manhã e duas à tarde, após cada duas delas os boletins de voto são destruídos num fogão instalado na Capela Sistina e a cor do fumo da queima indica o resultado, preto se o escrutínio continuar, branco se tiver sido escolhido o novo líder dos católicos.
Caso ninguém tenha sido eleito nos primeiros três dias do Conclave está previsto um dia de reflexão, que terá de ser seguido de sete outras votações inconclusivas antes de passar a ser necessária apenas uma maioria absoluta.
Conclave menos europeu de sempre
O sucessor do Papa Francisco será eleito pelo Conclave de cardeais menos europeu e menos italiano de sempre, um sinal das mudanças na Igreja Católica, mas também do dinamismo religioso de outras geografias em comparação com o velho continente.
No total, o colégio cardinalício tem 252 elementos, 135 dos quais são eleitores (com menos de 80 anos), uma lista que inclui, pela primeira vez, quatro portugueses com poder de voto, Manuel Clemente, António Marto, Tolentino de Mendonça e José Aguiar.
Francisco deixa um Colégio Cardinalício mais global, menos europeu e menos italiano, retomando a tendência de Paulo VI e João Paulo II, interrompida por Bento XVI.
Nos últimos anos, assumindo-se como o Papa das periferias, Francisco nomeou vários cardeais de países tão diversos como Austrália, Chile, Peru, Sérvia, Japão, Indonésia, Irão, Canadá, Costa do Marfim ou Argélia.
O colégio atual é também feito à imagem da renovação promovida por Francisco: dos 137 cardeais eleitores, 108 (80%) foram escolhidos por si, um sinal de que a sua sucessão será marcada pelo seu carisma.
A Europa tem 53 cardeais eleitores (39% do universo eleitoral), um número muito abaixo do habitual nos colégios anteriores. Em 2013, aquando da eleição de Francisco, o número de europeus era de 60 (52,2%), e em 2005, esse número era de 58 (49,5%).
Portugal tem também neste conclave o maior número de sempre de cardeais eleitores, quatro, acima dos três de 2013 e dois de 2005, o mesmo número que se repetiu na maioria dos conclaves do século XX.
Entre os eleitores, o país que tem mais cardeais é Itália, com 17 (12,6% dos votos), seguida dos EUA (10, 7,4% dos votos) e do Brasil (7).
A redução do peso da Itália no colégio cardinalício tem sido uma tendência, com menos 10 eleitores do que em 2013 (23,1% dos votos).
Em 1978, aquando da eleição do último papa italiano (João Paulo I), os italianos representavam 22,5% e em 1939, a maioria (54,8%) do colégio eleitoral tinha nacionalidade italiana.
O Brasil é o país lusófono com mais cardeais eleitores (7), seguido de Portugal (4), numa lista que inclui Cabo Verde e Timor-Leste, com um cada.
O primeiro conclave data de 1274, pelo então Papa Gregório X, que aprovou a realização da reunião magna dos cardeais eleitores num local à porta fechada (com chave), até que fosse escolhido o novo líder da igreja.
A institucionalização do conclave como forma de escolha da sucessão papal deveu-se à demora na escolha anterior, que colocou o papado em sede vacante durante quase três anos.
Por norma, desde essa data, a escolha do sucessor do trono de Pedro é feita entre os cardeais eleitores, uma tradição que se mantém desde o século XVI.
O Papa Francisco, que morreu hoje, foi eleito à quinta votação, no segundo dia do Conclave, enquanto o seu antecessor, Bento XVI, foi escolhido à quarta.
Em ambos os casos, além do fumo branco que saiu da chaminé da Capela Sistina, o toque a repique dos sinos da basílica de São Pedro anunciou a escolha do novo pontífice.
Mas antes da divulgação pública do resultado da eleição realiza-se o último ato do Conclave: questionar o escolhido sobre se aceita o cargo -- sabendo que a Constituição Apostólica indica que deve "submeter-se humildemente à vontade divina" -- e qual o nome por que pretende ser conhecido.
O cardeal argentino jesuíta Jorge Mario Bergoglio, o primeiro Papa da América Latina, escolheu o nome de Francisco numa homenagem a São Francisco de Assis, o santo dos pobres.
O que será o 267.º Papa terá depois de colocar as vestes brancas próprias do cargo e dirigir-se à sacada da Basílica de São Pedro, onde o primeiro cardeal dos diáconos já anunciou "Habemus Papam" (Temos Papa), para saudar os fiéis reunidos na praça em frente e dar a bênção "Urbi e Orbi" (à cidade [Roma] e ao mundo).