O Papa Francisco admitiu, esta sexta-feira, em Bruxelas que os abusos a menores são vergonha e humilhação da Igreja, acrescentando que é preciso pedir perdão.
"Atualmente, temos todos esta vergonha. É preciso enfrentar e resolver o problema", afirmou Francisco no primeiro encontro da sua deslocação oficial à Bélgica.
A posição do Papa foi manifestada hoje de manhã durante a visita ao castelo de Laeken, onde se reuniu com o Rei Filipe da Bélgica.
"O meu pensamento vai para os santos inocentes do tempo do rei Herodes, mas agora é a própria Igreja que cometeu este crime e a Igreja tem de pedir perdão e resolver esta situação com humildade cristã e fazer tudo para que não volte a acontecer", acrescentou, improvisando sobre um discurso escrito.
Francisco acrescentou que embora "haja quem diga" que os abusos também são cometidos entre familiares ou no mundo do desporto, "basta um caso na Igreja para provar a vergonha".
"Temos de pedir perdão. Esta é a nossa vergonha e a nossa humilhação", afirmou.
Francisco disse ainda que aIgreja está a enfrentar "com determinação e firmeza o flagelo" do abuso de menores, ouvindo e acompanhando aqueles que foram "feridos e implementando um amplo programa de prevenção em todo o mundo".
O apelo do primeiro-ministro belga
O primeiro-ministro belga em exercício, Alexander De Croo, apelou ao Papa Francisco para que, em relação aos abusos de menores por parte de membros da Igreja, sejam dados passos concretos e que as vítimas sejam ouvidas assim como devem ser reconhecidas "as atrocidades" para que seja feita justiça.
O Papa lamentou também os casos de "adoções forçadas", referindo-se a casos de roubo recém-nascidos ocorridos na Bélgica depois da Segunda Guerra Mundial (1939-1945)
"(Foi) infelizmente o resultado de uma mentalidade difundida em todos os estratos da sociedade. A tal ponto que aqueles que agiam segundo essa mentalidade pensavam em consciência que estavam a fazer o bem, tanto para a criança como para a mãe", disse o Papa.
"Muitas vezes, as famílias e outras entidades sociais, incluindo a Igreja, pensavam que, para eliminar o estigma negativo que, infelizmente, naquele tempo, afetava a mãe solteira, seria melhor para a mãe e para a criança que esta fosse adotada. Houve mesmo casos em que não foi dada a algumas mulheres a oportunidade de decidir se queriam ficar com a criança ou entregá-la para adoção", acrescentou.
Segundo o 'podcast' Kinderen van de Kerk ("Filhos da Igreja") do jornal belga Het Laatste Nieuws, transmitido em dezembro do ano passado, a Igreja vendeu cerca de 30 mil crianças sem o conhecimento das mães, entre o final da Segunda Guerra Mundial até à década de 1980.