“Em 2023, o dobro da área de Luxemburgo ardeu na União Europeia. Este ano não ficaremos aquém”, foi uma das afirmações de Wopke Hoekstra, comissário para a ação climática, que abriu o debate no Parlamento Europeu (PE) sobre os incêndios extremos no sul da Europa, em particular em Portugal e na Grécia. Todos os partidos políticos portugueses representados neste órgão da União Europeia (UE) tiveram uma palavra a dizer com a maioria a pedir uma aposta na prevenção e uma resposta coordenada da União Europeia.
“Investir para reduzir a nossa vulnerabilidade às alterações climáticas será menos do que a soma gasta para a recuperação dos incêndios”, afirmou o comissário para a ação climática. Anunciou ainda que já foram gastos dois mil milhões de euros para reduzir a vulnerabilidade de 30 milhões de pessoas aos fogos e que, em breve, Ursula von der Leyen publicará um plano de adaptação a esta crise.
Lídia Pereira, deputada do PSD, questionou a proposta da Comissão Europeia de cortar 155 milhões de euros no orçamento para o Mecanismo Europeu de Proteção Civil, o que iria deixar “ainda mais desprotegidas as populações e os seus modos de vida”. “É agora que temos de trabalhar para que nunca mais tenhamos de lamentar vítimas mortais”, afirmou.
Também questionou se seria cumprida a decisão do PE em avançar com uma frota conjunta de combate aos incêndios. “Temos de garantir que as condições económicas de subsistência a quem vive nestes territórios e apoiar as vítimas dos incêndios, como Portugal está a fazer, pela primeira vez, a substituição de equipamentos agrícolas que tenham sido destruídos pelas chamas”, exemplificou.
O deputado do PS Sérgio Gonçalves também ressalvou a necessidade em “reforçar a partilha de recursos entre os Estado-membros através do mecanismo de proteção civil da União Europeia” e “assegurar financiamento adequado o fundo de solidariedade da União Europeia (UE) e ativá-lo sempre que necessário”.
Dois aspetos que devem estar aliados a uma aposta na prevenção que assegure a “limpeza e gestão dos territórios” e na intensificação ao combate às alterações climáticas que agravam os incêndios florestais “ano após ano”. “Não podemos aceitar estas catástrofes como rotina para isso temos de garantir todo o apoio possível ao combate aos incêndios”, disse.
“Não é só depois das chamas atacarem que é importante reagir ou que é urgente reagir”, lembrou Ana Vasconcelos, deputada da Iniciativa Liberal. Pediu que os governos dos Estado-membros “se foquem em prevenir incêndios, combater o abandono de terrenos rurais, aumentar a atividade económica no interior para incentivar a boa gestão do território”, que “são prioridades óbvias”.
Também a deputada do CDS, Ana Miguel Pedro, afirmou que “atuar na resposta a catástrofes já não basta” por “vivemos num cenário agravado pelas alterações climáticas” que impulsiona uma “temporada de incêndios que começa mais cedo, dura mais tempo e se torna mais devastadora”. “A verdade é que a Europa tem os meios, mas falta-nos uma ação coordenada e ambiciosa”, que aposte na gestão sustentável das florestas e em tecnologias de monitorização com sistemas de deteção precoce.
Por outro lado, a deputada Catarina Martins, do Bloco de Esquerda, declarou que Portugal é “um barril de pólvora” para os incêndios devido aos terrenos abandonados, “despovoamento, ausência de cadastro até austeridade na floresta e uma das maiores áreas de eucalipto do mundo”. Lembrou ainda que os incêndios propiciam o deslizamento de terras e a falta de meios e de uma “carreira condigna” para os bombeiros e sapadores. “Os fogos só atingem esta dimensão porque é pasto para qualquer ignição criminosa, acidental ou natural”, sendo que “a inação climática da União Europeia e dos Estado-membros é a maior ameaça à segurança das populações”.
Enquanto o deputado do PCP, João Oliveira, assegurou que, nas áreas ardidas em setembro deste ano em Portugal, encontrou “agricultores arruinados pelas políticas da União Europeia”. “É urgente que haja fundos para dar a resposta de emergência que se impõe na recuperação de habitações, na recuperação da atividade económica, nos apoios de emergência que é preciso garantir a quem se viu atingido pelos incêndios, mas é preciso que daqui para a frente haja outras políticas que valorizem o mundo rural que permitam a fixação das populações “, afirmou.
O deputado do Chega, Tiago Moreira de Sá, aproveitou para agradecer aos bombeiros portugueses, que “enfrentam o que para muitos seria impossível” devido ao “dever profundo de proteger o que é nosso”. “São uma classe que apesar de ser socialmente heroica, é politicamente esquecida”, disse ao relembrar a manifestação às portas da Assembleia da República.