
"Nós estamos perante mais uma tentativa de um processo antigo, com várias frentes e com experimentações em vários locais e também no nosso país, mas que é um autêntico jogo de casino onde o prémio sai sempre à casa. É este o caminho que se está a procurar" trilhar, alertou Paulo Raimundo no final de uma audição na Assembleia da República sobre "defender e reforçar a Segurança Social pública, património dos trabalhadores e do povo".
O secretário-geral do PCP advertiu que está em curso em Portugal "um novo ataque" ao sistema de Segurança Social, frisando que não se trata de uma "afirmação teórica, nem alarmista" porque se baseia na experiência de "milhões e milhões de trabalhadores por esse mundo fora que foram obrigados a colocar as suas pensões em sistemas como aqueles que querem implementar em Portugal".
"De um momento para o outro, ficaram sem reforma, sem pensão e sem qualquer proteção. Portanto, isto não é [dizer] 'ah, aqueles são maus, querem-nos roubar o dinheiro'. Não, é a realidade concreta, objetiva e é uma experiência pela qual tenho a certeza de que nós não queremos passar", disse.
Para Paulo Raimundo, o país está perante um Governo que caiu, "mas que, com o apoio do Chega, IL e com a anuência do PS, se comportou sempre como uma autêntica comissão de gestão de interesses dos grupos económicos".
"Foi assim pelo que concretizou, pelo que ambiciona e ambicionava e o assalto à Segurança Social é uma das grandes ambições que está em marcha", disse, criticando a criação, por este executivo, de um grupo de trabalho sobre a sustentabilidade da Segurança Social.
Defendendo que "a ideia da sustentabilidade é a palavra-chave do ataque à Segurança Social", Paulo Raimundo considerou que o grupo de trabalho em questão "vai elaborar um estudo, mas já parte com as orientações e as conclusões tiradas".
"Portanto, o caminho é justificar, não é estudar. É justificar o assalto aos fundos da Segurança Social e onde tudo vale", afirmou, considerando curioso que, apesar de o Governo ter caído, o grupo de trabalho continue em questão continue a trabalhar.
O secretário-geral do PCP afirmou que, só em 2024, os trabalhadores descontaram 32 mil milhões de euros para a Segurança Social, salientando que se trata de cerca do dobro do valor inicial do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), de 16,6 mil milhões, "a que chamaram de 'bazuca'" que "vai mudar o país".
"É a isto, nestes valores, nesta massa, nesta riqueza onde querem pôr a mão", disse.
Paulo Raimundo criticou ainda a revisão do regime de reformas antecipadas admitido pelo Governo, deixando um desafio à ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social e ao primeiro-ministro.
"Vão a Penafiel dizer aos pedreiros que a sua reforma vai voltar aos 65 anos. Ou vão perguntar aos mineiros, em Aljustrel, se eles estão de acordo que a sua reforma volte aos 65 anos, com a penosidade daquele trabalho", pediu.
Depois, noutro desafio aos atuais governantes, Paulo Raimundo pediu-lhes que se recordem do que aconteceu ao executivo de Passos Coelho, quando, em 2012, "tentou atacar de forma direta a Segurança Social e reduzir a Taxa Social Única (TSU) para o patronato", provocando uma das maiores manifestações da história democrática portuguesa que obrigou o Governo a recuar.
"Essa medida foi o início do seu enterro, do ponto de vista político e do ponto de vista social. Portanto, fica mais uma sugestão: é bom que os partidos que estão disponíveis para dar esta golpada, uns de forma mais declarada, outros admitindo-a, não confundam duas coisas que são distintas: maioria política é uma coisa, maioria social é outra", advertiu.
TA // SF
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