Andrew Comyn Irvine, conhecido como "Sandy", desapareceu aos 24 anos, quando tentava escalar o Evereste, em junho de 1924, com o seu companheiro de expedição George Mallory. O seu corpo nunca foi encontrado, situação que se poderá ter alterado agora com a descoberta de uma bota com um pé por parte de uma equipa que filmava um documentário para a “National Geographic”.
A confirmar-se que é do alpinista britânico desaparecido há 100 anos, isso pode alterar a história da subida ao cume do Monte do Evereste e ajudar a resolver um dos maiores mistérios do alpinismo: terá sido ou não a dupla Andrew Comyn Irvine e George Mallory a primeira a chegar ao topo desta mítica montanha? A confirmar-se, terá ocorrido 29 anos antes de Edmund Hillary e Tenzing Norgay, até agora apontados como os pioneiros.
A descoberta é de setembro. A britânica BBC conta que, no mês passado, uma equipa de alpinistas que filmava o dito documentário “tropeçou” numa bota preservada com um pé dentro dela, e que passou a ser visível graças ao derretimento do gelo num glaciar. A equipa descia o Glaciar Central de Rongbuk pela face norte do Evereste, e avistou uma garrafa de oxigénio datada de 1933, quando uma expedição foi à procura dos corpos dos dois alpinistas.
Foi com emoção e entusiasmo que a famíla de Sandy recebeu a notícia da descoberta. "Extraordinário", sublinhou a sobrinha-neta de Irvine, Julie Summers. “Fiquei paralisada.... Todos nós tínhamos perdido a esperança de encontrar qualquer vestígio dele”, confessou Julie Summers, à BBC.
O corpo de Irvine tem sido procurado ao longo dos anos, porque se acredita que o jovem alpinista transportava uma máquina fotográfica com um filme não revelado no interior. E esse filme poderá ter a prova da chegada da dupla ao cume, no ano de 1924. O corpo de Mallory foi encontrado em 1999 por um alpinista americano, mas o de Sandy nunca fora descoberto.
A família cedeu uma amostra de ADN para ajudar a confirmar que o pé encontrado é de facto de Irvine. Mas a equipa de filmagem está bastante confiante, uma vez que o pé tem uma meia com uma etiqueta cozida com as palavras “A.C. Irvine”.
Chin – conhecido por ter realizado o documentário de uma escalada vencedor de um Óscar, "Free Solo", um projeto que fez juntamente com a sua mulher, numa reportagem para National Geographic – está convencido que o pé é mesmo de Irvine. Foi um achado fortuito, e os alpinistas estimaram que o gelo só tivesse derretido uma semana antes da sua descoberta.
O pé foi retirado da montanha para evitar que se deteriorasse, e entregue às autoridades chinesas de montanhismo que governam a face norte do Evereste.
Vistos a última vez em junho de 1924
A comemorar o centenário do desaparecimento de Irvine, a família está entusiasmada com a descoberta. Julie Summers lembra que cresceu a ouvir histórias do irmão mais novo da sua avó, aventureiro e educado em Oxford, que era conhecido como “tio Sandy”.
“A minha avó tinha uma fotografia dele ao lado da cama até ao dia em que morreu”, recorda. “Ela dizia que ele era um homem melhor do que qualquer outro alguma vez seria.”
Irvine, nascido em Birkenhead, tinha apenas 22 anos quando desapareceu e era o membro mais jovem de uma expedição que intrigou o mundo do alpinismo durante um século.
Sandy e Mallory foram vistos vivos pela última vez em 8 de junho de 1924, quando se dirigiam para o cume.
História do Evereste pode mudar
Nas últimas décadas, a procura dos restos mortais dos dois alpinistas tem estado envolta em controvérsia, devido a suspeitas de que os corpos foram deslocados. Julie Summers esclarece que a família sempre rejeitou as suspeitas e mostra “alívio” após o telefonema de Chin, revelando que Sandy “ainda estava na montanha”.
Se agora for provado que Irvine e Mallory chegaram ao cume em 1924, tornaram-se os primeiros a fazê-lo, Summers reconhece que seria uma revelação que iria “virar a história do alpinismo de pernas para o ar”.
“Seria bom - sentir-nos-íamos todos muito orgulhosos”, disse ela. “Mas a família sempre manteve o mistério, e a história de quão longe eles chegaram e quão corajosos foram era realmente o que estava em causa”, admitiu à BBC. “A única maneira de sabermos é se encontrarmos uma fotografia na câmara que ele tinha”, sublinha.
A procura pela câmara fotográfica deve assim continuar, perto do local onde foi encontrada a bota.