A estrada que dá acesso à fronteira foi bloqueada por volta das 11:00 (menos duas horas em Lisboa) por dois camiões, quando populares obrigaram os condutores dos veículos a pararem no meio da estrada, protestando contra o suposto rapto de um taxista local, explicou à Lusa uma fonte a partir da fronteira de Ressano Garcia.

"As pessoas bloquearam a estrada porque um taxista foi sequestrado durante a noite e as pessoas saíram à rua para protestar. A polícia está a tentar desbloquear a estrada e está uma situação complicada porque estão a disparar gás lacrimogéneo", explicou a fonte que trabalha a menos 100 metros da fronteira como comerciante.

A via está bloqueada a menos 500 metros da fronteira e, além de tentar desmobilizar as populações, a polícia moçambicana tem estado a escoltar algumas viaturas que conseguem contornar os camiões para locais considerados seguros.

"Neste momento, a estrada está bloqueada, mas os carros tentam contornar os obstáculos na via. Mas a situação é tensa aqui", explicou à Lusa um residente local.

Em declarações à Lusa, o porta-voz dos Serviços de Migração de Moçambique na província de Maputo, Juca Bata, garantiu que a fronteira com a África do Sul continua aberta, apesar da situação.

"A informação que temos é de que a fronteira está aberta e a funcionar", disse.

A Lusa tentou, sem sucesso, contactar a Polícia da República de Moçambique (PRM) na província de Maputo.

Desde o início das manifestações contra os resultados das eleições de 09 de outubro em Moçambique, confrontos entre a polícia e manifestantes naquela zona têm afetado o funcionamento da fronteira, com registo de casos de vandalização de infraestruturas e bloqueio da estrada na parte moçambicana.

Um dos casos mais graves ocorreu em 13 de dezembro, quando o baleamento, em direto, de um jovem que filmava operações da polícia contra manifestantes na fronteira gerou uma revolta popular.

O jovem, produtor de conteúdos na internet, perdeu a vida no hospital e estava em direto na rede social Facebook quando foi alvejado, minutos após registar o momento em que as forças policiais dispararam para dispersar um grupo de manifestantes nas proximidades da fronteira.

Ressano Garcia, no sul de Moçambique, é local de passagem obrigatória para várias exportações sul-africanas via porto de Maputo e para importações de produtos sul-africanos para a capital moçambicana.

Em 05 de novembro foram queimadas cinco viaturas das autoridades de fronteira moçambicana, por manifestantes que ainda vandalizaram o posto de fronteira, tendo os dois países decidido encerrar totalmente a passagem, com camiões a acumularem-se em ambos os lados.

Moçambique vive desde outubro um clima de forte agitação social, com manifestações e paralisações convocadas pelo ex-candidato presidencial Venâncio Mondlane, que rejeita os resultados eleitorais de 09 de outubro.

Atualmente, os protestos, agora em menor escala, têm estado a ocorrer em diferentes pontos do país e, além da contestação aos resultados, os populares queixam-se do aumento do custo de vida e outros problemas sociais.

Desde outubro, pelo menos 327 pessoas morreram, incluindo cerca de duas dezenas de menores, e cerca de 750 foram baleadas durante os protestos, de acordo com a plataforma eleitoral Decide, organização não-governamental que acompanha os processos eleitorais.

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