As eleições presidenciais nos Estados Unidos têm um conjunto de tradições e regras que, aos olhos dos europeus, poderão parecer invulgares. É o caso, por exemplo, do dia em que os americanos vão às urnas: é sempre numa terça-feira, em novembro.
Este hábito com mais de um século e meio é uma das peculiaridades que marcam o processo eleitoral norte-americano.
Porquê votar à terça-feira?
A tradição de votar na primeira terça-feira após a primeira segunda-feira de novembro remonta ao século XIX. Em 1845, o Congresso norte-americano aprovou uma lei que estabelecia este dia para as eleições presidenciais. Neste altura, os Estados Unidos eram ainda uma sociedade rural e agrícola, onde a deslocação até às mesas de voto demorava várias horas ou até dias.
Assim, o Congresso escolheu uma terça-feira, pois permitia que os eleitores viajassem sem prejudicar as suas atividades religiosas (ao domingo) e de mercado (à quarta-feira, que era habitualmente dia de feira nas zonas rurais).
A escolha de novembro também foi intencional. Este era um mês em que as colheitas já estavam finalizadas e o tempo ainda permitia as deslocações.
Atualmente, e apesar de não se adequar ao estilo de vida, a tradição permanece, mas é posta em causa porque há quem considera que dificulta a participação eleitoral, especialmente entre as classes trabalhadoras.
Eleições indiretas: o Colégio Eleitoral
Outro aspeto que distingue das eleições norte-americanas é o sistema do Colégio Eleitoral, uma estrutura de votação indireta. Em vez de elegerem diretamente o Presidente, os eleitores escolhem “grande eleitores” que, por sua vez, votam no Presidente e no vice-presidente.
Este sistema foi criado pelos “Fundadores da Nação” para equilibrar o poder entre estados populosos e menos populosos, evitando que apenas algumas regiões decidissem o resultado da eleição.
No entanto, o Colégio Eleitoral tem sido alvo de críticas, especialmente em casos onde o candidato mais votado nacionalmente não vence as eleições, como aconteceu em 2000 com Al Gore e em 2016 com Hillary Clinton.
Muitos defendem que o sistema já não reflete a vontade popular e sugerem a sua abolição, mas uma mudança destas exigiria uma alteração constitucional complexa.
A tradição dos “battleground states”
Nos EUA, a maioria dos estados vota consistentemente em partidos específicos, mas há alguns, conhecidos como “swing states” ou “battleground states”, onde o resultado é imprevisível.
Estes estados, como a Florida, a Pensilvânia e o Ohio, são frequentemente alvo das maiores campanhas eleitorais, já que podem determinar o vencedor.
A importância do voto antecipado e pelo correio
Nas últimas décadas, tornou-se comum votar antes do dia oficial das eleições, seja presencialmente ou por correio.
Desde as últimas eleições que o voto antecipado ganhou maior importância, as presidenciais de 2020 aconteceram em plena crise covid-19 pelo que foram ativados métodos de votação e foi estimulada a votação antecipada para evitar a concentração no último dia.
Porque as eleições ocorrem de quatro em quatro anos?
A Constituição dos Estados Unidos estabeleceu um ciclo eleitoral de quatro anos, uma escolha pensada para equilibrar a estabilidade governativa com a possibilidade de renovação do poder. Diferentemente do sistema português, onde o presidente não pode ter mais do que dois mandatos consecutivos, nos EUA, um presidente pode ser reeleito apenas uma vez, para um total de oito anos.
A complexidade e as particularidades das eleições presidenciais norte-americanas não só refletem a história e a cultura política do país, como influenciam profundamente a forma como o poder é distribuído e exercido nos Estados Unidos. Estas tradições antigas revelam um sistema que, embora frequentemente criticado, persiste na manutenção de costumes que são, para muitos, símbolo de uma democracia única no mundo.