"A experiência de aquacultura de camarão, que já leva alguns anos, é um exemplo para provar que estes projetos são viáveis e necessários, principalmente quando se torna evidente a diminuição de recursos, nesta área. Espero que a denominada Zona Económica Marítima de São Vicente consiga estimular e dinamizar mais iniciativas do género, o que se enquadra nos seus objetivos, nomeadamente, no concernente ao aproveitamento do mar", frisou o chefe de Estado José Maria Neves, na abertura do colóquio "Os Oceanos", que decorre hoje naquela ilha.

No caso da Fazenda de Camarão, trata-se de uma ideia que nasceu há dez anos em São Vicente e cuja produção começou em 2019, chegando já a um volume anual de 30 toneladas de camarão, para exportação. Entretanto, também em termos de aquacultura, está em curso um investimento norueguês em São Vicente para a produção de atum.

Na sua intervenção, o chefe de Estado destacou a importância da investigação e disponibilização de dados sobre este tema, acreditando que ao Campus do Mar, no Mindelo, e a outras entidades ligadas ao setor, deverá ser reservado um papel importante em todo este processo, especialmente no que se refere à pesquisa e à inovação.

"A Zona Económica Marítima de São Vicente, Campus do Mar, Universidade Técnica do Atlântico, Escola do Mar, serão peças de um puzzle que se quer completo e bem encaixado para se conseguir os objetivos preconizados. Todos os esforços devem convergir no sentido de se conseguir a sustentabilidade e um equilíbrio entre o investimento responsável e um oceano sustentável", apontou.

Na abertura deste encontro, que acontece durante dois dias no Mindelo, o Presidente realçou a relevância dos dez desafios da "Década Oceanos", que se apresentam como um verdadeiro teste à consciência global, instigando a humanidade a escolher o caminho. Assim, considerou as metas preconizadas necessárias, inadiáveis e alcançáveis, mas que o compromisso de todos será determinante e decisivo.

"De entre esses desafios, pretende-se entender e combater a poluição marinha, reduzindo ou eliminando as fontes de poluição, que podem ser terrestres ou marítimas, porém, todas com impactos negativos na saúde humana e nos ecossistemas oceânicos. Procura-se, igualmente, reduzir os impactos das atividades humanas e, desta forma, proteger e restaurar ecossistemas e biodiversidade", enumerou.

De todos os desafios, destacou aquele que considera ser o mais nobre, que é o de "alimentar o planeta" pela ampliação da oferta de alimentos com recurso à pesca e ao cultivo de organismos marinhos de forma sustentável.

Outro desafio, disse, passa pelo desenvolvimento de uma economia oceânica sustentável e equitativa, através da economia do mar, nas suas mais diversas vertentes, e neste quesito constata o "elevado potencial" que o arquipélago tem por explorar.

"Cabo Verde tem encetado passos concretos para a implementação de uma economia azul, e, acredito, será bem-sucedido. Basta recordarmos do resultado espetacular das campanhas de reflorestação, nos primeiros anos da independência. Face à fúria como a natureza tem reagido à incessante agressão que vem sofrendo, com eventos climáticos extremos cada vez mais frequentes, de entre os desafios, é de se sublinhar a pertinência de se ampliar o conhecimento sobre a relação entre os oceanos e o clima do Planeta", afirmou o chefe de Estado.

José Maria Neves pediu ainda atenção para as populações ribeirinhas, propondo aumentar a resiliência das comunidades aos riscos oceânicos, a melhoria nos serviços de alerta precoce de diversos tipos e níveis de perigo, associados aos oceanos e à costa, assim como a preparação e a resiliência da comunidade.

"Por outro lado, se compararmos o conhecimento de que dispomos, entre continentes e oceanos, verificamos que as maiores lacunas acontecem na parte marítima. Daí que um dos desafios seja o de expandir o Sistema Global de Observação dos Oceanos, o que facultará mais informações, possibilitando a tomada de decisões com maior rigor, e não menos importante, partilhar essas mesmas informações," considerou o Presidente cabo-verdiano.

O chefe de Estado defendeu ainda que o desconhecimento sobre os oceanos é uma falha que deve ser colmatada, sendo o mapeamento do fundo do mar um dos dez desafios da "Década dos Oceanos", e defendeu a criação de uma representação digital dos oceanos para facilitar o objetivo de explorar as suas riquezas, mas também de o conhecer e preservar a biodiversidade marinha.

"Reconhecendo a importância da produção de dados, há que propiciar o acesso aos mesmos, de forma equitativa, e uma socialização para que chegue a todos os usuários em tempo oportuno. Ou seja, este desafio referenciado como sendo habilidades, conhecimentos e tecnologia para todos pretende assegurar um conhecimento abrangente e, dessa maneira, melhor conhecer e gerir de forma dinâmica e sustentável os oceanos", sublinhou José Maria Neves.

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