O que desencadeou a crise política?

Tudo começou com a decisão inesperada do Presidente Yoon Suk Yeol em decretar, a 3 de dezembro, a aplicação da lei marcial no país. O Chefe de Estado acusou a oposição de apoiar a Coreia do Norte e de usar o orçamento nacional para paralisar a sua administração, mas retirou a lei marcial depois de a Assembleia Nacional ter votado contra a medida. Esta situação levou os deputados a aprovarem uma moção para um processo de impugnação a 14 de dezembro, cuja decisão final cabe ao Tribunal Constitucional. A presidência foi assumida interinamente pelo primeiro-ministro Han Duck-soo, que foi também destituído esta sexta-feira.

Porque é que Han Duck-soo foi afastado?

É a primeira vez que o parlamento da Coreia do Sul vota a favor da destituição de um presidente interino. A oposição apresentou uma moção nesse sentido depois de Han Duck-soo ter bloqueado a nomeação de três juízes para o Tribunal Constitucional que tinham sido escolhidos pelos deputados para supervisionar o caso de Yoon, explicou a Reuters. Segundo o ‘Hankyoreh’, foram invocados cinco motivos para a sua destituição: o veto de propostas para nomear conselheiros especiais que investigassem a primeira-dama e o alegado encobrimento de um militar; co-conspiração em atos de insurreição com a declaração da lei marcial; criação de um sistema de governação sob a sua liderança; evitar a nomeação de um procurador especial permanente para investigar a alegada insurreição; e a recusa na nomeação de juízes para o Tribunal Constitucional.

Como reagiu o partido no poder?

Han Duck-soo aceitou a decisão. “Respeito a decisão da Assembleia Nacional, e para não criar mais confusão e incerteza, as minhas funções serão suspensas de acordo com a lei, e irei esperar pela decisão rápida e sábia do Tribunal Constitucional”, reagiu Han Duck-soo num comunicado citado pela agência Yonhap. No entanto, o Partido do Poder Popular (PPP, no poder) contestou a decisão. Dos 300 deputados, 192 votaram a favor moção – mais do que os 151 necessários para destituir um primeiro-ministro mas menos do que dois terços exigidos pela Constituição para destituir um Presidente. Deputados do PPP gritaram “abuso de autoridade” e “nulo”, ao invés de submeterem os seus votos, noticiou o ‘Hankyoreh’.

Quem o vai substituir?

Com a saída de Han Duck-soo, a presidência é assumida pelo ministro das Finanças Choi Sang-mok. “Vamos dedicar todos os nossos esforços a manter a segurança nacional forte, uma economia estável e a segurança pública, para que o bem-estar da nação e do dia a dia da população não sejam afetados”, indicou Choi, citado pelo ‘The Korea Herald’.

Que impacto teve a imposição da lei marcial?

A lei marcial manteve-se durante seis horas, com forças armadas destacadas para o edifício da Assembleia Nacional e o anúncio da proibição de greves, protestos e atividade por parte do Parlamento e grupos políticos; meios de comunicação foram colocados sob controlo governamental e foi ainda anunciada a possibilidade de suspeitos de violarem o decreto serem detidos sem mandado. Mas as consequências não terminaram nas poucas horas em que a lei vigorou. Surgiram protestos na ruas, o valor da moeda coreana caiu, os Estados Unidos expressaram preocupação com a situação. O pré-julgamento do Tribunal Constitucional para decidir se Yoon Suk Yeol deve abandonar o cargo já arrancou e esta sexta-feira o ex-ministro da Defesa Kim Yong-hyun foi acusado de traição pelos procuradores que estão a investigar a imposição da lei marcial. Segundo a ‘KBS World”, os procuradores suspeitam que Kim e Yoon mantiveram discussões sobre a possibilidade de lançar a lei marcial desde março.