
Foi no dia 19 deste mês que Ekrem Imamoglu foi detido pela polícia. Quatro dias depois, o tribunal turco ordena a sua prisão. Nesse intervalo de tempo, uma onda de protestos atinge a Turquia.
Dezenas de milhares de pessoas saíram à rua naquela que rapidamente se tornou na pior agitação do país em mais de uma década. Gás lacrimogéneo e balas de borracha estão a ser utilizados numa tentativa de acalmar a multidão.
Quem é Ekrem Imamoglu
Foi eleito presidente da câmara de Istambul em 2019 e reeleito no ano passado. No domingo, o governo turco ordenou a sua prisão, acusando-o de corrupção e colaboração com grupos terroristas.
Na ordem de prisão, a que a AFP teve acesso, o tribunal declara que o suspeito "está a ser detido por criar e dirigir uma organização criminosa; aceitar subornos; corrupção; registo ilegal de dados pessoais e fraude em concursos".
Lê-se também no documento que, "embora exista uma forte suspeita de culpabilidade pelo crime de apoio a uma organização terrorista armada (...), não é necessário, nesta fase", ordenar a detenção neste contexto, "uma vez que já foi decidido encarcerá-lo por crimes financeiros".
Neste momento, apresenta-se como o principal opositor do presidente Erdogan. Foi eleito no domingo candidato presidencial pelo secular Partido Republicano do Povo (CHP), mesmo estando na prisão.
Para o partido, a prisão de Imamoglu representa um "golpe contra nosso próximo presidente" e, por isso, convocaram os seus apoiadores a irem às ruas em protesto.
Durante a votação, perto da câmara de Istambul, as vozes entoavam a vontade de mudança. E, por isso, votaram simbolicamente naquele que acreditam que pode trazer fazer a diferença.
Em declarações à AFP, e citado pela BBC, Ferhat, de 29 anos, disse que “sempre que há um oponente forte, é sempre preso (...) Há uma ditadura na Turquia agora, nada mais. É política apenas no nome".
Enquanto isso, Sukru Ilker, 70, disse que os manifestantes não queriam "confrontar a polícia", mas proteger o candidato em quem a cidade havia votado. Já Ayten Oktay, um farmacêutico de 63 anos, acrescentou que a Turquia "acordou": "Defenderemos os nossos direitos até o fim".
Quem são os manifestantes
Foram os estudantes universitários que começaram, mas a eles juntaram-se muitos mais. Em apenas quatro dias, já mais de mil pessoas foram detidas. Entre eles estão pelo menos 10 jornalistas. Membros da oposição, e vários grupos de defesa dos direitos humanos, dizem que o governo de Erdogan quer travar esta luta à força.
Esta segunda-feira a situação piorou. As autoridades anunciaram a proibição de ajuntamentos em Istambul, Ancara e Esmirna, as maiores cidades da Turquia.
Mas na rua, os manifestantes dizem que não é isto que os vai parar. A oposição garante que vai continuar até que o governo ceda e liberte Ekrem Imamoglu.
Quem são os detidos
O ministro do Interior turco, Ali Yerlikaya confirmou esta segunda-feira que os detidos incluem membros de até uma dúzia de "organizações terroristas", e muitos deles têm condenações anteriores por crimes relacionados com drogas, roubo, fraude, assédio e exploração sexual e agressão.
As forças de segurança - que contam com mais de 120 feridos nas suas fileiras - apreenderam bastões, 'cocktails molotov', machados e facas.
"Que ninguém tente usar a nossa juventude e o nosso povo como escudo para as suas próprias ambições políticas", avisou o ministro do Interior numa publicação nas redes sociais, onde ameaçou ainda que estas ações terão um elevado preço político e legal.
Yerlikaya sublinhou que as autoridades turcas estão de alerta para garantir "a paz e a segurança".
"Aterrorizar as nossas ruas ou ameaçar a paz e a segurança da nossa nação não será tolerado em nenhuma circunstância", acrescentou o ministro, pedindo às pessoas para que "sejam cautelosas" perante as provocações e para que atuem "com bom senso".
Yerlikaya realçou que a Constituição turca prevê o direito de manifestação, desde que não se tornem violentas, explicando que as autoridades têm o poder de restringir o direito de reunião e de manifestação por razões de segurança e para preservar a ordem pública.
A resposta do Governo
Além das proibições, Erdogan condenou os protestos, dizendo que não se iria render ao que considera ser vandalismo: "Não aceitaremos a perturbação da ordem pública". Negou, também, que a prisão de Imamoglu tenha tido uma motivação política.
Erdogan está no poder há 22 anos, tanto como presidente como primeiro-ministro da Turquia.
- Com Lusa