A moção de censura apresentada pelo Chega tem já 15 dos 24 votos de que precisa para passar no parlamento madeirense. E isto porque o PS anunciou, ao fim da tarde deste sábado, que irá votar a favor da moção para derrubar o governo de Miguel Albuquerque.
Paulo Cafôfo, o líder, fez questão de sublinhar que “a deliberação foi aprovada por unanimidade” na reunião da comissão política regional. “Nós não poderíamos, nem vamos segurar este governo de Miguel Albuquerque e somos coerentes com isso”.
Se votaram contra o programa de governo e contra o orçamento, Paulo Cafôfo entende que, desde Julho, a situação ficou ainda pior. “Temos um presidente do governo que é arguido por casos de corrupção, que não quer responder à justiça, está fugido à justiça e não pede a retirada a sua imunidade como membro do Conselho de Estado”. Além do presidente, são quatro os secretários regionais que estão a contas com a justiça. “Isto não é normal e não pode ser normal numa democracia, nem podemos aceitar que assim seja”, insiste o líder dos socialistas madeirenses.
O quadro ficou ainda pior, pelo menos na opinião do presidente do PS: "Quando tivemos um presidente do governo que numa altura tão difícil como foram os incêndios de Agosto foi um presidente que em vez de gerir os incêndios, de estar ao lado do seu povo, fugiu para o Porto Santo para se estender numa espreguiçadeira no areal da praia dourada”.
Por tudo isso, o voto a favor que não será travado nem pela moção de censura ser do Chega, nem pelo texto da moção que acusa o PS de ser “cúmplice ético e moral” da governação instalada na região.
“Não nos interessa o parágrafo, não nos interessa o texto da moção de censura. Interessa-nos a moção de censura e isso é que é relevante. Os madeirenses não iam compreender se o PS hesitasse num momento tão decisivo”. O socialista vai mais longe, ao dizer que o ónus do problema não pode ficar com o PS. Quem fez acordo com o PSD foi o Chega, quem segurou Miguel Albuquerque foi o Chega e quem falhou foi o líder do PSD-Madeira nas promessas de que teria um governo para quatro anos.
O voto é a favor e está fora de questão apresentar o PS a sua própria moção de censura depois do debate do orçamento regional que, em princípio, seria votado em Dezembro. “O PS não anda a brincar à política, nem a moções de censura” e a moção existe é a do Chega, será essa que será discutida e votada a 18 de Novembro. Se passa ou não ainda não se sabe. E isso Paulo Cafôfo também fez questão de lembrar, o grupo parlamentar socialista só tem 11 deputados, há 36 na Assembleia Legislativa e esses também terão de dizer como vão votar.
A decisão dos madeirenses colide com a doutrina que o líder nacional Pedro Nuno Santos, tinha referido no início desta semana a propósito do caso do autarca de Loures quando disse que nenhum eleito pelo PS devia votar moções do Chega. Para já, os socialistas a nível nacional estão em silênio, mas fonte próxima so secretário-geral defendeu ao Expresso que o PS não pode interferir nas decisões do PS-Madeira, por ter de respeitar a “autonomia” do partido regional. “A doutrina sobre moções do Chega não pode ignorar a autonomia regional”, diz a mesma fonte que acrescenta que é compreensível o voto a favor da moção porque “o PS Madeira é contra este governo desde o início. Não passou a querer sustentá-lo”.
A decisão dos socialistas foi tomada depois de o PSD-Madeira ter tido também uma reunião da Comissão Política em que Miguel Albuquerque saiu a recusar demitir-se: "Eles querem é um líder mole!", disse.
Para que esta moção passe - é obrigatório que tenha uma maioria de 24 votos. É preciso saber como irá votar o JPP, que conseguiu nove deputados e ainda não disse o que faria. Se votar a favor, somam-se os tais 24 deputados e o governo de Miguel Albuquerque cai a 18 de Novembro, poucos dias antes de Marcelo Rebelo de Sousa voltar a ter poderes para dissolver o parlamento e convocar eleições regionais antecipadas. Se isso acontecer a Madeira termina o ano com um governo de gestão e sem orçamento regional.