O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, manifestou este domingo pesar pela morte de seis reféns, afirmando que os assassinatos provam que o Hamas não quer um acordo de cessar-fogo. Netanyahu disse estar de coração partido com a notícia da morte dos reféns, acusou o Hamas de os ter morto a "sangue frio" e disse que Israel vai responsabilizar o grupo.

O governante acusou também o Hamas de ter posto em causa os esforços de cessar-fogo em curso, avançou a agência noticiosa Associated Press (AP). "Quem assassina reféns não quer um acordo", afirmou.

Os críticos em Israel culparam Netanyahu por arrastar as negociações de cessar-fogo, ao passo que o primeiro ministro nega a acusação. Zat al-Rishq, um alto funcionário do Hamas, culpou Israel e os Estados Unidos da América pela morte dos reféns, dizendo que ainda estariam vivos se Israel tivesse aceitado uma proposta de cessar-fogo com que o Hamas disse ter concordado em julho.

Netanyahu prometeu continuar a guerra até que o Hamas seja destruído, defendendo que a pressão militar é necessária para trazer de volta os reféns.

O Canal 12 de Israel noticiou que Netanyahu entrou em confronto numa reunião do Gabinete de Segurança, na quinta-feira, com o seu ministro da Defesa, Yoav Gallant, que o acusou de dar prioridade ao controlo de um corredor estratégico ao longo da fronteira entre Gaza e o Egito - um dos principais pontos de discórdia nas conversações - em detrimento da vida dos reféns.

O Conselho de Ministros terá votado a favor da permanência no corredor, apesar das objecções de Gallant, que disse que isso impediria um acordo sobre os reféns.

Um funcionário israelita confirmou o relatório e disse que, relativamente a três dos reféns - Goldberg-Polin, Yerushalmi e Gat - estava planeado serem libertados na primeira fase de uma proposta de cessar-fogo discutida em julho. O funcionário não estava autorizado a informar os meios de comunicação social sobre as negociações e falou sob condição de anonimato, indica a AP.

O presidente Joe Biden, que se reuniu com os pais de Goldberg-Polin, disse estar "devastado e indignado". "É tão trágico quanto repreensível", lamentou. "Não se enganem, os líderes do Hamas vão pagar por esses crimes. E nós vamos continuar a trabalhar sem parar para chegar a um acordo que garanta a libertação dos restantes reféns", acrescentou. A vice-presidente Kamala Harris condenou o Hamas.

O ministro da Defesa de Israel instou este domingo o Conselho de Ministros a reverter a decisão de manter as tropas israelitas na fronteira entre Gaza e o Egito, horas após serem recuperados os corpos de seis reféns de Gaza. "O Conselho de Ministros deve reunir-se imediatamente e anular a decisão de quinta-feira", disse Yoav Gallant em comunicado, num gesto sem precedentes, de acordo com a agência noticiosa EFE.

Para o ministro, a presença contínua de tropas na fronteira, recentemente exigida pelo primeiro-ministro Netanyahu, é um dos maiores obstáculos a uma trégua com o Hamas. "É demasiado tarde para os reféns que foram mortos a sangue frio, (mas) temos de recuperar os que ainda estão detidos pelo Hamas", acrescentou o ministro num comunicado.

Após as notícias deste domingo sobre a morte dos reféns Ori Danino, Almog Sarusi, Hersh Goldberg-Polin, Carmel Gat, Alexander Lobanov e Eden Yerushalmi, cujos corpos foram encontrados ontem à noite num túnel em Rafah, no sul de Gaza, os familiares dos reféns culparam Netanyahu pelo trágico desfecho.

Membros de uma família palestiniana evacuam o campo de refugiados de Jenin, na Cisjordânia ocupada, durante os ataques israelitas em curso, a 1 de setembro de 2024
Membros de uma família palestiniana evacuam o campo de refugiados de Jenin, na Cisjordânia ocupada, durante os ataques israelitas em curso, a 1 de setembro de 2024 JAAFAR ASHTIYEH

Três polícias israelitas mortos em ataque armado no sul da Cisjordância

Três polícias israelitas, incluindo uma mulher, foram este domingo mortos num "ataque armado" no sul da Cisjordânia ocupada, anunciou o comandante da polícia israelita neste território palestiniano onde o exército israelita conduz uma vasta operação "antiterrorista". O major Ouzi Levy falou à imprensa ao lado do ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben Gvir, um colono de extrema-direita.

"Em vez de libertarmos os terroristas, devíamos dar-lhes um tiro na cabeça", afirmou Ben Gvir, de acordo com a agência AFP. "O direito à vida (dos israelitas) é mais importante do que a liberdade de circulação dos habitantes sob o controlo da Autoridade Palestiniana", acrescentou o ministro, que apoia a anexação de toda a Cisjordânia.

Duas das vítimas tinham cerca de 30 anos, enquanto a terceira, um homem de cerca de 50 anos, sucumbiu aos ferimentos, informou o Magen David Adom, o equivalente israelita da Cruz Vermelha. Na sexta-feira à noite, dois ataques de palestinianos tinham já visado colonatos judeus na mesma região.

Desde o início da guerra entre Israel e a Faixa de Gaza, que foi lançada em resposta ao ataque do Hamas contra Israel em 07 de outubro, a violência aumentou na Cisjordânia, onde cerca de 490.000 israelitas vivem em colonatos entre três milhões de palestinianos.

Segundo a ONU, cerca de 650 palestinianos foram mortos pelo exército israelita ou por colonos desde 07 de outubro. Pelo menos 23 israelitas, incluindo soldados e polícias, morreram em ataques palestinianos ou em operações do exército, de acordo com os números oficiais israelitas.

Desde quarta-feira, o exército israelita tem feito incursões em várias cidades e campos de refugiados no norte da Cisjordânia. Pelo menos 22 palestinianos foram mortos nesta "operação antiterrorista", quer por ataques aéreos, quer por tiros ou combates, na sua maioria combatentes de grupos armados palestinianos que lutam contra Israel, liderados pelo Hamas e pelo seu aliado Jihad Islâmica.