Ela é a “Dama de Ferro” da oposição venezuelana que ficou impedida de ser candidata presencial e ele era um desconhecido da população que agora pode ocupar o lugar que pertence a Nicolás Maduro há mais de dez anos. María Corina Machado e Edmundo González Urrutia são a dupla da oposição que pode causar um terramoto político este domingo nas eleições presidenciais na Venezuela.

O apoio da população é avassalador com a maioria das projeções de voto a garantir uma vitória de cerca de 60% à coligação da oposição Plataforma Unitária Democrática. Dia 28 de julho pode marcar o início de um novo ciclo político e o fim de um regime que dura há mais de 20 anos na Venezuela.

A candidata não oficial é o rosto da campanha eleitoral

Aos 56 anos, María Corina Machado é “o fenómeno eleitoral mais esmagador na Venezuela desde Chávez em 1998”, segundo o jornal El País. A ex-deputada é capaz de reunir milhares nas ruas com a promessa de uma mudança radical no governo. Nasceu em Caracas, filha de um dos maiores empresários venezuelanos ligado à indústria metalúrgica, é licenciada em Engenharia Industrial, mestre em Finanças e é mãe de três de filhos.

Tornou-se uma figura controversa para o governo após fundar a organização não-governamental, Súmate, com o objetivo de incentivar a participação eleitoral e defender a transparência dos processos eleitorais, através da qual reuniu mais de quatro milhões de assinaturas numa petição, em 2004, que conduziu a um referendo sobre a permanência do então Presidente Hugo Chávez. Após este ato, foi recebida, em 2005, pelo Presidente norte-americano George W. Bush em Washington.

TIM SLOAN/AFP via Getty Images

Iniciou a sua carreira política há mais de 20 anos e nem sempre reuniu o apoio da oposição. María Corina Machado enfrentou Chavéz em 2012 ao interromper o seu discurso na Assembleia Nacional para afirmar que “expropriar é roubar”, ao referir-se à expropriação de empresas e propriedades por parte do regime. Um ato da qual a sua própria família foi vítima: as empresas da família Machado tornaram-se as primeiras exportadoras privadas não-petroleiras da Venezuela, mas em 2009 Chavéz acabaria por expropriar duas filiais da empresa e nacionalizá-la no ano seguinte.

Aos olhos do chavismo, María Corina Machado pertencia à “direita radical e violenta”, de acordo com uma notícia da BBC. A popularidade da deputada, que se considera liberal, chegou este ano ao vencer as eleições internas da Plataforma Democrática Unitária em outubro de 2023, com mais de 90% dos votos, e devolveu a força a esta coligação da oposição.

Com promessas aliciantes, Machado quer a recuperação económica a par do regresso dos mais de sete milhões de venezuelanos. O rosto da oposição foi reunindo milhares de apoiantes com um discurso contra o chavismo, em que defende a privatização de empresas, redução do poder do Estado e uma flexibilidade relativamente ao aborto e casamento homossexual.

A sua candidatura nestas eleições presidenciais foi impedida após ter ficado inabilitada de exercer cargos públicos durante 15 anos devido a uma sentença do Supremo Tribunal da Venezuela por ter acumulado cargos enquanto deputada e por ter reunido apoios para Juan Guaidó. María Corina Machado cedeu o seu lugar a Corina Yoris, uma académica de 80 anos formada em Filosofia e Letras. Contudo, o registo da sua candidatura não foi possível por falta de acesso à plataforma do Conselho Nacional Eleitoral.

María Corina Machado é a força impulsionadora de Edmundo González

Após este impasse, surgiu o nome de Edmundo Gonzalez Urrutia, diplomata quase desconhecido do público. Licenciou-se em Estudos Internacionais, é mestre em Relações Internacionais e integrou o partido antecessor da atual coligação, Mesa da Unidade Democrática.

Sem experiência política, foi assistente do embaixador da Venezuela nos Estados Unidos no final da década de 1970, após esse cargo foi embaixador da Argélia entre 1991 e 1993 e da Argentina entre 1998 e 2002. Integrou ainda o conselho editorial do jornal ‘El Nacional’. Caso seja o declarado o vencedor da noite eleitoral, a presidência será o primeiro cargo político que exerce.

“Conhecíamo-nos, gostávamos e gostávamos um do outro, mas não éramos assim tão próximos. Agora somos uma equipa, realmente uma equipa”, afirmou María Corina Machado numa entrevista ao jornal El País.

Esta equipa aparece sempre junta nos comícios e eventos público, o que facilitará a transferência de voto de Machado para González. “Enterrar o socialismo para sempre” é uma das promessas feitas por Machado durante a campanha eleitoral, que agora cabe ao diplomata realizar, caso seja eleito este domingo.

Edmundo González, candidato presidencial da oposição.
Edmundo González, candidato presidencial da oposição. Gaby Oraa

Até abril, a vida de Edmundo González, de 74 anos, era calma. O diplomata reformado aproveitava o tempo com os quatro netos, assistia a conferências e escrevia alguns artigos académicos. Agora é o candidato da Plataforma Unitária Democrática, uma posição que encarou como um “compromisso pessoal para com os venezuelanos”, embora nunca tenha ambicionada exercê-la, confessou em entrevista à pela BBC.

Tem uma presença discreta, escreveu um livro sobre a Venezuela durante a Segunda Guerra Mundial, gosta de basebol e é adepto do clube espanhol Real Madrid. Durante as três semanas após a sua nomeação, foi referido como o “candidato substituto” até que realmente o seu nome ficou confirmado. González tem um discurso calmo com “um apelo à união dos venezuelanos, um apelo à unidade nacional, um apelo em que o adversário é um adversário político e não um inimigo”, afirmou ainda à BBC.

“Nós governaremos com os melhores e para todos, sem exceções. Regressaremos ao Estado de Direito e respeitaremos a Constituição como um pacto social para a viabilidade e a estabilidade do país. Eu garanto uma alternância em paz, um país em que todos nos reencontremos, a fim de recompor e de reinstitucionalizar a Venezuela”, afirmou o candidato numa entrevista ao jornal Correio Braziliense.

Enquanto mais de 20 milhões de venezuelanos esperam para ir às urnas, González mostra-se cauteloso em elaborar planos futuros e salienta à BBC que o objetivo é ganhar as eleições. “Não excluo nem antecipo qualquer resultado”, mas se ganhar quer “a reconciliação nacional e se isso incluir sectores que estão atualmente com o partido no poder, então vamos incluí-los”.