Cento e quarenta e dois anos depois de dar o pontapé de saída da Revolução Industrial e do carvão, o Reino Unido encerrou esta segunda-feira a sua última central de energia elétrica produzida a partir de carvão. Com o fecho da central Ratcliffe-on-Soar, no centro de Inglaterra, o Reino Unido torna-se também no primeiro país do G7 a deixar de produzir energia a carvão.
A Uniper, a empresa que geria a central, disse ao New York Times que o local será convertido num “‘hub’ de energia de neutralidade carbónica”. “O berço do poder a carvão está a virar as costas ao carvão para sempre”, disse Matt Webb, diretor do ‘think tank’ climático britânico E3G ao New York Times.
A central de Ratcliffe-on-Soar foi aberta em 1967, mas a energia a carvão já era explorada há décadas pelo Reino Unido. O carvão foi o combustível da Revolução Industrial do século XIX no país, e do crescimento exponencial da indústria britânica. Contudo, o carvão é também considerado o pior de todos os combustíveis fósseis, pelo enorme impacto ambiental gerado quando é queimado. E o aumento da industrialização a carbono e da poluição no Reino Unido tomaram milhares de vidas pelo caminho.
“Reconhecemos o contributo que mineiros e comunidades fizeram ao longo de gerações, e a liderança ambiental do momento assim o demonstra”, vincou Michael Shanks, ministro britânico da energia, numa publicação da rede social X (antigo Twitter).
John Gummer, antigo líder do Climate Change Committee e membro da Câmara dos Lordes, anotou à BBC que o encerramento da última central é “um dia notável, porque o Reino Unido, ao fim de contas, construiu toda a sua força com carvão”
O surgimento do petróleo, no início do século XX, e das energias renováveis nas últimas décadas, contribuíram para a queda no uso do carvão para alimentar cidades e populações. Muitos países têm anunciado que irão deixar de usar completamente esta forma de combustível fóssil, para colmatar o impacto das alterações climáticas, com planos para fazer o mesmo com o petróleo e o gás natural.
Porém, o carvão continua a ser de extrema importância para algumas zonas do globo, especialmente no Sudeste Asiático, onde as gigantes populações da China e da Índia continuam a usar energia a carvão em massa, e a precisar dele cada vez mais. Segundo dados da Agência Internacional de Energia, a China e a Índia são responsáveis pela maioria do consumo de carvão do mundo, que, em 2023, bateram recordes ao consumir 8,5 mil milhões de toneladas métricas - mas a mesma agência tem notado quedas em economias na União Europeia e nos Estados Unidos.
No G7, onde se esperava que a dependência do carvão terminasse mais depressa, surgiram obstáculos a essa transição. A Alemanha, por exemplo, continua a depender da energia a carvão em mais de 25% da sua eletricidade, com a guerra na Ucrânia e as sanções às importações de gás natural russo forçaram o país a reabrir centrais a carvão. O combustível também representa 30% da energia do Japão, que tem mais de 54 mil centrais em operação, segundo o Global Energy Monitor.
O fecho da central de Ratcliffe, na região das East Midlands, no centro de Inglaterra, pode ser um exemplo de uma transição energética de sucesso, num país onde o encerramento de centrais movidas a combustíveis fósseis deixa frequentemente trabalhadores na rua e comunidades em risco.
Os sindicatos da região confirmaram que os 154 trabalhadores da central de Ratcliffe conseguiram encontrar outro emprego, incluindo em outros projetos e formações profissionais da Uniper, ou aceitaram indemnizações “substanciais”.
“Oferecer uma transição climática justa aos trabalhadores é uma batalha difícil, mas Ratcliffe deu-nos esperança”, afirmou o Trades Union Congress, num comunicado divulgado na semana passada.