Os projetos são da responsabilidade do Clube Naval de Ponta Delgada e de uma empresa local que se dedica à observação de baleias, que celebraram hoje um protocolo de colaboração e batizaram um bote baleeiro tradicional.
Segundo o presidente do Clube Naval de Ponta Delgada, Carlos Carreiro, a parceria hoje estabelecida com a Futurismo Azores Adventures permite concretizar o sonho de a associação passar a disponibilizar dois botes baleeiros - um batizado hoje e outro em construção - para fruição dos sócios e da população em geral, visto que também terão a vertente turística.
Com a iniciativa, será possível retomar uma tradição que "está praticamente perdida" em São Miguel e o clube ganhará uma nova dinâmica, que também será proporcionada pela abertura, no início de 2025, da Casa dos Botes, que funcionará num espaço cedido pela associação naval.
O futuro espaço museológico, que ficará equipado com meios audiovisuais e equipamentos relacionados com a pesca da baleia e com a "própria interpretação do bote", contribuirá para divulgar as memórias baleeiras de São Miguel.
"O que nós queremos, e é o nosso objetivo, é que eles, [os visitantes], despertem para essa memória tão coletiva e tão açoriana, que foi a baleação, e que, hoje em dia, nós podemos utilizá-la noutra vertente, na vertente do lazer, não esquecendo sempre a memória dos nossos antepassados", assumiu Carlos Carreiro.
Ruben Rodrigues, sócio maioritário da empresa Futurismo Azores Adventures, lembrou à agência Lusa que em São Miguel existiu caça à baleia, que foi "distinta de outras realidades de outras ilhas", mas o património relacionado com esta prática nunca foi recuperado.
Como o empresário sempre cultivou a paixão "pela necessidade da defesa do património baleeiro dos Açores e nomeadamente em São Miguel", decidiu avançar com um investimento próprio para "proteger esse património baleeiro", com a compra dos dois botes e com a criação da Casa dos Botes, num investimento global de 170 mil euros.
"Nós queríamos fazer a abertura da Casa dos Botes dentro de três meses, quando estiver aqui o segundo bote, e ter também algum tratamento museológico, digamos assim, alguma coerência na visitação", adiantou o empresário.
O presidente da Câmara Municipal de Ponta Delgada, Pedro Nascimento Cabral, que esteve presente na cerimónia, referiu à Lusa que a iniciativa das duas entidades é de "excelência", pois a ilha de São Miguel também teve tradições na atividade da baleação.
"De facto, é deveras emocionante revisitarmos a história nos dias de hoje, com a apresentação deste bote baleeiro, que nos traz à memória recordações imensas daquilo que é a história e a identidade deste povo", afirmou o autarca.
O bote baleeiro tem o nome do seu construtor, o açoriano João Tavares, que o produziu segundo as especificações tradicionais.
A caça da baleia no arquipélago dos Açores terminou em 1984.
A captura processava-se com base em barcos de boca aberta e em métodos artesanais, com recurso a um arpão, sendo posteriormente os cetáceos desmanchados nas unidades industriais que existiam nas várias ilhas do arquipélago.
ASR (JYAM) // TDI
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