A Associação 25 de Abril lamentou esta quinta-feira que luto nacional pela morte do Papa Francisco abranja o dia em que se assinala os 51 anos da Revolução dos Cravos e apelou à participação no desfile na sexta-feira em Lisboa.

Em comunicado, a associação presidida por Vasco Lourenço alegou que, se o Papa Francisco fosse um militar português em 1974, "decerto seria um Capitão de Abril", tendo em conta que "toda a sua vida e todo o seu percurso apostólico se fundamentaram na defesa da liberdade, paz, democracia, igualdade e justiça social".

Adiantou que, embora não aceite que um Estado laico tome esta decisão devido à morte de um chefe religioso, no caso da Igreja Católica, "não questiona a declaração de luto nacional, por três dias, pela morte de um chefe de um Estado amigo".

A associação lamentou o período decretado pelo Governo para o luto nacional - hoje, sexta-feira e sábado -, alegando que é "muito divergente ao procedimento que o próprio Estado do Vaticano pratica".

O luto no Vaticano dedicado a Francisco, o tradicional período conhecido como "novendiales" após a morte de um Papa, começa no sábado e termina a 4 de maio, antecedendo o conclave do Colégio Cardinalício.

"Essa decisão do Governo de gestão português fez com que o período de luto atinja o dia 25 de Abril, dia em que Portugal festeja o acontecimento que lhe abriu as portas à liberdade", adiantou ainda o comunicado.

Depois de salientar a "enorme surpresa" pelas datas escolhidas, a Associação 25 de Abril questionou ainda quais os atos em que o Governo deixará de participar durante o período de luto nacional.

"O facto é que desconhecemos que, para além da sessão solene na Assembleia da República, onde o Governo se limitará a fazer o papel de corpo presente, existam quaisquer outros atos comemorativos oficiais, com uma prevista participação do Governo", referiu a associação.

"Estamos certos de que o Governo terá a sua devida resposta da parte dos portugueses que, respeitando a memória de Francisco, festejarão mais um aniversário do dia que lhes garantiu e garante a liberdade, a paz e a democracia", considerou a associação, que apelou para que "todos, todos, todos" participem no desfile popular a realizar na avenida da Liberdade, em Lisboa, na tarde do 25 de Abril.

O Governo esclareceu esta quinta-feira que o decreto que instituiu o luto nacional pela morte do Papa Francisco não impõe quaisquer restrições à celebração do 25 de Abril por entidades públicas ou privadas, limitando-se a definir a conduta dos membros do executivo.

O decreto "não impõe ou fixa, ele próprio, quaisquer medidas ou restrições específicas às atividades de entidades e pessoas públicas ou privadas", apenas se "limita a determinar o luto e fixar as respetivas datas", lê-se numa nota oficial da Presidência do Conselho de Ministros destinada a esclarecer "dúvidas suscitadas" quanto ao impacto do diploma.

"As opções de conduta definidas pelo Governo aplicam-se aos seus membros, e em nenhum momento foram dadas instruções relativamente a atividades de outras entidades (incluindo municípios e associações) ou das populações", lê-se no comunicado.

O programa de eventos de natureza festiva que estavam previstos para a residência oficial do primeiro-ministro "foram adiados para o dia 1 de maio seguinte, mas não foram cancelados", esclarece ainda o comunicado.