O presidente do Sinmea, Adriano Esteves, disse em conferência de imprensa que o sindicato está preocupado com o elevado número de médicos angolanos no desemprego, o elevado índice de morbimortalidade nos hospitais e falta de condições de trabalho.
Segundo Adriano Esteves, a exiguidade de médicos especialistas no país é também outra preocupação, bem como a criação de um sistema de saúde primário eficiente em Angola.
"Queremos manifestar o nosso descontentamento pelo facto de ainda termos médicos desempregados e o sindicato vai continuar a lutar no sentido de melhorarmos cada vez mais a prestação de serviço no nosso país", referiu.
O dirigente sindical frisou que o Sinmea está a contar com todos os médicos, para "encontrar os melhores caminhos para diminuir o elevado índice de mortalidade e morbilidade no país".
"Nós não vamos descansar, enquanto sindicalistas, enquanto a população de Angola não tiver as mesmas oportunidades, precisamos que cada um, seja rico ou pobre, tenha as mesmas possibilidades e não é o que observamos no nosso país", vincou.
O sindicalista salientou que o país tem atualmente no ativo apenas 8.000 médicos, para uma necessidade de pelo menos 30.000 profissionais.
Por sua vez, a vice-presidente do Sinmea, Domingas Matos, apontou que apesar das várias reclamações e apelos feitos pelo sindicato não há qualquer resposta das autoridades governamentais.
"É nesta ordem, que não temos outra saída se não partirmos para as nossas ações reivindicativas, só não partimos para uma greve neste período devido à situação que o país e o mundo vive, estamos em situação de calamidade pública e juridicamente não é permitida a greve neste período", disse a sindicalista.
Contudo, prosseguiu: "Tão logo se levante este período, nós o sindicato partiremos para uma, duas, três, quatro, quantas greves forem necessárias para que sejamos ouvidos, para que os nossos documentos e os nossos pedidos sejam olhados com o merecer que se impõe e sejamos atendidos".
Domingas Matos assegurou que, apesar da situação de calamidade, o sindicato não vai cruzar os braços e, embora não seja possível uma paralisação, há atividades que podem ser realizadas para fazer ouvir as suas vozes.
"A princípio começaremos por manifestações, faremos quantas forem necessárias e, se nos próximos 15 dias as respostas de tudo o que já foi apresentado não forem dadas, então daí mesmo o conselho nacional do sindicato vai reunir para sacar todas as atividades reivindicativas que sejam juridicamente aceitáveis nesta situação", adiantou.
O sindicato apresentou, em 2018, um caderno reivindicativo ao Ministério da Saúde, dirigiu em setembro de 2019 a todas as comissões de especialidade da Assembleia Nacional um manifesto, ambos sem resposta, e no dia 03 deste mês enviou uma carta ao Presidente da República, aguardando até ao momento por um pronunciamento.
Já o responsável sindical de Luanda, Miguel Sebastião, lembrou que em dezembro de 2019, o Ministério da Saúde realizou um concurso público, cujas listas finais foram publicadas este mês, seis meses depois, tendo inscritos 1.400 médicos para 1.200 vagas.
Miguel Sebastião sublinhou que Angola é um país com "carência gritante de médicos", questionando-se como podem estar no desemprego 2.500 profissionais.
O médico realçou que no meio do concurso público Angola recebeu mais de 200 médicos provenientes de Cuba, colegas formados pelo Estado, que no regresso ao país se encontram "pura e simplesmente abandonados".
"Até que ponto estamos a valorizar os quadros nacionais, formados no estrangeiro, que voltam ao país?", questionou o sindicalista, notando que o médico formado no estrangeiro chega e "é abandonado" e o "colega com quem estudou, na mesma sala" chega a Angola "e diretamente tem direito ao emprego".
"Onde está o patriotismo deste país?", perguntou Miguel Sebastião, referindo-se aos médicos importados de Cuba em detrimento aos angolanos formados no mesmo país.
De acordo com Sebastião, a situação dos médicos é a mesma para os enfermeiros e técnicos de diagnóstico.
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