
A Câmara Municipal de Sintra anunciou esta segunda-feira que vai resgatar duas centenas de animais acolhidos em condições de "negligência e maus-tratos" por uma associação do concelho, na sequência de uma denúncia de uma organização de resgate animal.
Segundo avançou a ComRaça - Equipa de Resgate Animal, na sequência de uma denúncia, a organização de Matosinhos, distrito do Porto, deslocou-se a São João das Lampas, concelho de Sintra, alertando para "a existência de um espaço, gerido por uma associação de proteção animal, onde se encontram diversos animais em condições de aparente negligência e maus-tratos".
"Os animais não têm condições nenhumas para estar aqui", a proprietária "não tem condições nenhumas para cuidar dos animais, tem uma clínica veterinária clandestina dentro de casa onde efetua os procedimentos médico-veterinários nos animais", contou à Lusa Ana Pinto da Costa, da ComRaça.
A associação Salvação, criada "em 2012 com o intuito de proteger animais abandonados" e "encontrar donos que mereçam a sua companhia", conforme se apresenta, foi visitada logo pela manhã por elementos da ComRaça, do Gabinete Médico Veterinário Municipal, do Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF), do Serviço de Proteção da Natureza e do Ambiente (Sepna) da GNR e da Direção-Geral Alimentar e Veterinária (DGAV).
"As autoridades estão a ajudar, mas ao mesmo tempo não existe um mandado judicial, e então ou se faz as coisas com o parecer da proprietária ou os animais ficam todos na mesma", contou Ana Pinto da Costa, referindo que, na casa da profissional de saúde, foram encontrados "cerca de 30 animais", idosos, doentes, com feridas, numa "situação que tem tudo para as autoridades atuarem".
Numa deslocação ao abrigo no domingo, voluntários da ComRaça relataram na sua página numa rede social que "o cheiro é insuportável" e viram o "cadáver de um felino no terreno", sendo "notória a falta de condições quer a nível de infraestruturas, quer a nível de salubridade".
"Os animais apesar de estarem gordos e alguns até obesos, são privados de cuidados veterinários regulares" e os cães "confinados a espaços pequenos, sujos, onde se verificam ataques" entre eles, e os "equídeos aparentemente estão com sarna e vivem no meio da lama, com um crescimento dos cascos desmedido que provoca dor e dificuldade na locomoção", acrescentaram.
De acordo com Ana Pinto da Costa, na semana passada, a filha da proprietária eutanasiou um cavado que "estava há três anos a agonizar" com pelo menos uma pata partida, pois "já não aguentava ver o sofrimento do animal".
A associação, segundo Ana Pinto da Costa, está "legalmente constituída", mas "o espaço em si não está legalizado para o número de animais e os animais de pecuária", e a Com Raça, antes da intervenção, tentou com várias pessoas adotar animais, mas a proprietária não deixou.
"Ou seja, acho mesmo que é um caso de acumulação, porque não quer que nenhum animal lhe seja retirado", apontou, considerando que, "se fosse efetivamente uma questão de falta de apoios, é uma coisa, porque isso, infelizmente, pode calhar a qualquer um".
15 animais resgatados
A Câmara Municipal de Sintra, em resposta à Lusa, confirmou que só teve conhecimento na sexta-feira da situação e que os serviços municipais, com o Sepna da GNR, DGAV e ICNF procederam "à imediata vistoria e verificação da denúncia, tendo identificado um total de 15 animais de companhia com sinais de negligência" e maus-tratos.
Os 15 animais foram "acolhidos nas instalações municipais para a devida assistência médica", tendo sido "identificados diferentes tipos de animais", de companhia, como cães e gatos, e de pecuária, como "cavalos, lamas, burros, póneis e porcos".
"Dos factos, resultará com a maior brevidade um relatório conjunto, elaborado pelas entidades presentes, que possibilitará solicitar mandato judicial para a retirada coerciva de todos os animais existentes no espaço", concluiu a autarquia.
Por seu lado, Ana Pinto da Costa revelou que a ComRaça ficou com "seis canídeos e três gatos da casa da proprietária", que estavam "em piores condições e a precisar de mais cuidados".
Com LUSA