A associação SOS Racismo acusou hoje o Governo de aplicar a "agenda de ódio da extrema-direita" ao "adotar políticas com o propósito específico de perseguir e afastar imigrantes", a propósito da operação policial de quinta-feira no Martim Moniz.

A SOS Racismo salientou hoje em comunicado que o executivo tem reduzido os direitos dos imigrantes, "revogando os procedimentos de regularização baseados em manifestações de interesse e marginalizando assim milhares de pessoas, atirando-as para a precariedade e para a exclusão social" e "intensificou a perseguição e assédio, consagrando a visão securitária, xenófoba e racista sobre os fluxos migratórios".

Segundo a associação "são dinheiros públicos gastos apenas para a perseguição infundada e sem sentido de pessoas, pelo simples facto de serem imigrantes", a partir de "perceções e imaginários típicos da extrema-direita".

Em Portugal, sublinha a SOS Racismo, "não existe nenhuma relação entre índices de criminalidade e fluxos migratórios", mas "o discurso e prática do Governo tem-se centrado em 'perceções' e cenários imaginários, para propagar a ideia de que essa relação de causalidade existe".

"O atual governo, cuja agenda política está ao reboque do Chega, está desde o início empenhado em recuperar e higienizar a retórica racista e xenófoba da extrema-direita contra imigrantes em geral e todas as minorias étnicas em particular", considera a SOS Racismo, dando como exemplo a intenção de marginalizar os irregulares no acesso à saúde ou a outros serviços.

"Não há nenhum estudo, nenhum facto, que indique que existe em Portugal um 'turismo de saúde' de massas. As pessoas imigrantes em situação irregular que acedem ao SNS, representam uma percentagem ínfima", cerca de um por cento, refere.

Apesar disso, "com estas construções à base de perceções, o Governo e o PSD aplicam, na íntegra, o programa de ódio da extrema-direita, preferindo a exclusão social, a pobreza, o sofrimento e a precariedade de milhares de pessoas", conclui a associação, que pede a mobilização de todos "os partidos políticos, associações e movimentos e todas as pessoas que não se revêm nesta atitude persecutória e infame".

REPRODUÇÃO REDES SOCIAIS

O líder da comunidade do Bangladesh em Lisboa, Rana Taslim Uddin, considerou hoje "inaceitável" a operação policial com "meios excessivos" no Martim Moniz, que cria uma má imagem dos imigrantes sem ter sido detetado qualquer crime entre os seus compatriotas.

"Aquelas pessoas encostadas na parede parece que são criminosos" e isso é "o que fica" das imagens da operação policial, afirmou à Lusa Rana Taslim Uddin, que responsabiliza também a atuação das forças de segurança como fatores para o aumento do racismo, particularmente contra os imigrantes do subcontinente indiano, particularmente do Bangladesh, Nepal e Índia.

A operação também já foi criticada pelo presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, Miguel Coelho (PS), que pediu a demissão da ministra da Administração Interna.

A operação policial de quinta-feira no Martim Moniz resultou na detenção de duas pessoas e na apreensão de quase 4.000 euros em dinheiro, bastões, documentos, uma arma branca, um telemóvel e uma centena de artigos contrafeitos.

Em comunicado, o Comando Metropolitano de Lisboa (Cometlis) da PSP esclarece uma pessoa foi detida por posse de arma proibida e droga e outra por ser suspeita de pelo menos oito crimes de roubo.

A operação foi acompanhada por uma procuradora da República e foram cumpridos seis mandados de busca não domiciliária.

O aparato policial na zona, onde moram e trabalham muitos imigrantes, levou à circulação de imagens nas redes sociais mostrando dezenas de pessoas na Rua do Benformoso encostadas à parede, de mãos no ar, para serem revistadas pela polícia.