As tarifas norte-americanas de 25% sobre as importações de aço e alumínio entraram esta quarta-feira em vigor, o que levou vários dos países afetados a criticar a decisão imposta pelo Presidente Donald Trump.

O Governo britânico mostrou-se desiludido com esta decisão e confirmou que está a negociar um acordo económico mais amplo com os Estados Unidos da América.

“Continuarei a colaborar com os EUA para defender os interesses comerciais do Reino Unido”, afirmou esta quarta-feira o ministro do Comércio britânico, Jonathan Reynolds, acrescentando que o Reino Unido manterá todas as opções em aberto e não hesitará responder em defesa do interesse nacional.

China espera choque limitado mas adverso

Nas bolsas chinesas, nove das dez maiores empresas siderúrgicas chinesas registaram esta quarta-feira perdas, mas no caso do alumínio, a Chalco e a China Hongqiao, as duas principais empresas deste setor, ganharam 4,63% e 2,2%, respetivamente.

No que diz respeito a esta medida imposta pelo Presidente dos EUA, a Associação do Ferro e do Aço da China prevê um impacto "limitado", já que as exportações de aço da China para os EUA "representam uma pequena percentagem".

No entanto, "a longo prazo, pode levar outros países a seguir o exemplo, reduzindo a competitividade das exportações de aço da China".

O vice-secretário-geral da organização, Zhang Longqiang, disse à estação estatal CCTV que a medida é "um ato de protecionismo comercial" e manifestou "firme oposição" às novas taxas porque "não são conducentes a um comércio saudável e justo e à concorrência no mercado".

"O aumento das taxas não vai, em última análise, proteger a indústria siderúrgica dos EUA - pelo contrário. Além disso, numa perspetiva de médio e longo prazo, as taxas terão um impacto adverso na cadeia industrial e na cadeia de abastecimento da indústria siderúrgica mundial, incluindo a da China."

A porta-voz para o Comércio, He Yongqian, sublinhou ainda que "muitos países se opuseram explicitamente".

Pequim protestou na altura contra as taxas de 25% impostas pelos EUA sobre as importações de aço e alumínio, sublinhando que não há vencedores em disputas comerciais.

Especialista preveem efeito dominó

Embora os EUA não estejam entre os seus principais compradores - importaram cerca de 1,8% das compras de aço do país asiático - a China exporta estes materiais para outros países como o Canadá e o México, que por sua vez os vendem ao país norte-americano.

Segundo os especialistas, alguns produtos são comprados por outros países e reenviados para os Estados Unidos, o que afetaria o aço semiacabado chinês, que é transformado em países como o México ou o Vietname antes de ser exportado para os Estados Unidos.

Os especialistas preveem também um efeito dominó, uma vez que as taxas aumentarão os preços do aço e do alumínio, em especial nos EUA, o que conduzirá a aumentos generalizados a nível mundial.

Outros consultores sugerem que as medidas se destinam a impedir a evasão das taxas, através do transbordo de aço e alumínio através de países terceiros, no que é conhecido como comércio "triangular".

Na segunda-feira, entraram em vigor novas taxas chinesas sobre os produtos agrícolas dos EUA, em resposta às taxas anteriormente impostas por Washington sobre produtos chineses.

Tarifas são "totalmente injustificadas"

O primeiro-ministro da Austrália, Anthony Albanese, classificou as tarifas como "totalmente injustificadas". "Não se trata de um gesto amigável", declarou o chefe do Governo australiano aos jornalistas, depois de não ter conseguido negociar uma isenção de última hora.

Apesar deste revés, Albanese indicou que Camberra não vai tomar medidas de retaliação contra Washington, ao contrário do que tinha anunciado há um mês o tesoureiro australiano, Jim Chalmers.

"As tarifas e a escalada das tensões comerciais são uma forma de autoflagelação económica e uma receita para um crescimento mais lento e uma inflação mais elevada."

Em fevereiro, o primeiro-ministro afirmou que o Presidente norte-americano, Donald Trump, "aceitou que fosse considerada uma isenção" para a Austrália como sendo no interesse dos dois países.

Funcionários da Casa Branca disseram, na terça-feira à noite, aos meios de comunicação australianos que a isenção já não estava na ordem do dia. "Ele considerou-a e rejeitou-a", disse a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, à emissora ABC, referindo-se a Donald Trump.

De acordo com Camberra, as exportações australianas representam 1% das importações de aço dos EUA e 2% das suas importações de alumínio.

A siderúrgica australiana Bluescope afirma empregar cerca de quatro mil pessoas nos Estados Unidos. A Austrália possui enormes depósitos de carvão, gás natural, metais e minerais, incluindo ferro, a maior parte dos quais exporta para a China.

Brasil aumenta capacidade de produção de aço

O Presidente brasileiro, Lula da Silva, inaugurou na terça-feira a ampliação de uma siderúrgica da Gerdau, que aumentará a produção de aço, um dia antes da entrada em vigor das tarifas de Trump.

Lula da Silva elogiou a iniciativa da Gerdau e sua confiança no país, mas não fez nenhuma alusão às políticas tarifárias do governo americano.

No entanto, num evento anterior e numa possível referência a essas decisões polémicas, mas sem esclarecer o contexto, ele afirmou: "Não adianta o Trump ficar gritando de lá, porque eu aprendi a não ter medo de cara feia. Fale manso comigo, fale com respeito comigo, que eu aprendi a respeitar as pessoas e quero ser respeitado. É assim que a gente vai governar este país", disse.

A Gerdau, com um investimento de 238 milhões de euros, vai ampliar a capacidade de produção anual de bobinas de aço da fábrica em 200 mil toneladas, elevando-a para 1,1 milhão de toneladas por ano.

A siderúrgica esclareceu, no entanto, que toda a produção será destinada ao mercado interno.

O complexo da Gerdau na cidade de Ouro Branco, que inclui outras fábricas, responde por 12% do aço produzido no país, que totalizou 33,7 milhões de toneladas no ano passado, segundo dados do setor. Quase metade da produção tinha como destino os Estados Unidos.


- Com Lusa