O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Federação Russa afirmou esta sexta-feira que haverá "medidas de retaliação" contra Portugal e outros países da União Europeia pelo envio para a Ucrânia de material de uso militar como os helicópteros Kamov.

"Já anunciámos que encaramos a entrega de [helicópteros] Kamov à Ucrânia como uma medida hostil em relação ao nosso país, medida que faz parte da caminhada dócil e inconsciente de Portugal e de outros países da União Europeia pela trajetória desenhada por Washington", afirmou a representante oficial da diplomacia russa, Maria Zakharova.

Numa videoconferência à margem do IV Fórum Eurosiático de Mulheres, que encerra hoje na cidade de S. Petersburgo, Zakharova indicou que as "medidas de retaliação serão estudadas em sigilo" e que "toda a gente" ficará a saber quando a Rússia começar a aplicá-las.

"Nós lembramo-nos dessas ações aquando da definição das relações bilaterais. Como toda a gente sabe, temos boa memória, apesar de não sermos vingativos", disse a porta-voz quando questionada pela agência Lusa sobre o envio para a Ucrânia de seis helicópteros médios Kamov Ka-32A11B portugueses para apoiar Kiev na luta contra a invasão russa.

Maria Zakharova condenou também "o regime de Kiev e seus mentores ocidentais", que "continuam a discutir a possibilidade da utilização de mísseis de longo alcance capazes de atingir as profundezas" da Rússia.

Portugal integra ainda uma lista aprovada pelo conselho de ministros da Rússia, que indica 47 países acusados de imporem “atitudes que contradizem valores tradicionais da Rússia”, de acordo com uma mensagem publicada no serviço de mensagens pela agência estatal RIA/Novosti. Entre os países, estão também os Estados Unidos, o Reino Unido, a Alemanha ou a Grécia.

Kiev diz não subestimar ameaças russas a Portugal e agradece apoio ao país

O governo ucraniano disse não subestimar as ameaças da Rússia a Portugal e outros Estados-membros da UE. "Não quero sobrestimar, mas também não posso subestimar, de qualquer forma, as ameaças da Rússia. São sempre sérias e, se eles ameaçam, eles fazem algo", disse uma fonte ucraniana, quando questionada pela Lusa em Kiev sobre as declarações da diplomacia russa.

"O que é que eles podem fazer contra os portugueses? Não sou perito nisso, mas talvez em termos económicos, não sei", acrescentou a mesma fonte ucraniana à Lusa. Ainda assim, os membros do governo da Ucrânia ouvidos pela Lusa na capital ucraniana disseram "valorizar muito" as relações entre Kiev e Lisboa, falando nas "comunicações frutíferas" entre os dois países.

OUTRAS NOTÍCIAS QUE MARCARAM O DIA:

⇒ O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia rejeitou a sugestão do chefe da diplomacia polaca, Radoslaw Sikorski, de desmilitarizar e colocar a Crimeia sob mandato da ONU, recordando que é fundamental recuperar essa península. "A integridade territorial da Ucrânia nunca foi nem nunca será objeto de debate ou compromisso. A Crimeia é a Ucrânia. Ponto final", sublinhou o ministério ucraniano em comunicado.

⇒ A presidente da Comissão Europeia propôs, em Kiev, que a União Europeia avance com 35 mil milhões de euros no empréstimo de 45 mil milhões de euros do G7 à Ucrânia.

⇒ As autoridades ucranianas aconselharam os residentes de Kiev a permanecerem esta sexta-feira em casa, devido à poluição atmosférica que cobriu a capital, em parte causada por incêndios na região. O Ministério da Proteção Ambiental e Recursos Naturais da Ucrânia indicou que a poluição era o resultado da queima de turfeiras e de outros incêndios florestais na região, combinada com as flutuações de temperatura à beira do outono. Kiev liderava hoje de manhã uma lista das principais cidades mais poluídas, numa base de dados em tempo real da IQAir, uma empresa suíça que monitoriza os níveis de qualidade do ar.

⇒ A Rússia suspeitaria da incursão da Ucrânia em Kursk e estava a elaborar planos para a impedir há vários meses, segundo um conjunto de documentos alegadamente apreendidos pelo exército ucraniano em posições russas abandonadas na região, avança o jornal “The Guardian”.

⇒ O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, afirmou que a Rússia vai recuperar o controlo da região de Kursk, palco desde agosto de uma incursão ucraniana sem precedentes, "quando for apropriado". "Os nossos militares estão a fazer o seu trabalho e vão fazê-lo, o controlo será restabelecido. Não temos dúvidas quanto a isso", declarou.

⇒ Zelensky afirmou esperar que o seu plano para a vitória contra a Rússia tenha o apoio de Joe Biden para "decisões rápidas" até dezembro, dias antes de se encontrar com o seu homólogo norte-americano. "No que toca ao plano para a vitória, gostaria de ser coerente e discutirei todos os pormenores, em primeiro lugar, com o Presidente dos Estados Unidos, porque, principalmente, as decisões sobre este plano dependerão dele, embora também de outros aliados", disse.

⇒ A Ucrânia proibiu o uso do Telegram, um serviço de mensagens muito popular fundado pelo russo Pavel Durov, nos dispositivos eletrónicos oficiais da maioria dos seus militares, alegando razões de segurança. Sob anonimato, fonte dos serviços de segurança da Ucrânia disse à agência noticiosa France-Presse (AFP) que os militares "usam frequentemente o Telegram para discutir questões de trabalho confidenciais". "É uma grande fonte de vazamento de informações porque o Telegram é facilmente pirateado" pelos russos, explicou.

⇒ O Ministério da Defesa da Rússia afirmou ter abatido oito 'drones' ucranianos sobre a região de Belgorod, na zona de fronteira com a Ucrânia.

⇒ A Rússia rejeitou a possibilidade de um encontro entre o seu chefe da diplomacia, Serguei Lavrov, e o homólogo norte-americano, Antony Blinken, na Assembleia Geral da ONU em Nova Iorque. "Não, claro que não, o que é que podemos falar com ele?", respondeu o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros Sergei Riabkov, de forma brusca, quando questionado pela agência russa Ria Novosti sobre a possibilidade de tal encontro, segundo a agência francesa AFP.