O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, reiterou esta terça-feira que os países europeus são "aproveitadores" em relação a Washington, apoiando uma acusação feita inadvertidamente por altos funcionários da sua administração num grupo numa aplicação de mensagens.

"Sim, penso que são aproveitadores", disse Trump, questionado sobre a troca de mensagens dos principais membros da sua administração nas áreas de Defesa, Informações e Diplomacia, revelada na segunda-feira por um jornalista da revista The Atlantic, que foi incluído no grupo por engano.

"A União Europeia tem sido absolutamente horrível connosco", afirmou, esta terça-feira, Trump, repisando argumentos que tem usado em relação à NATO e aos gastos que os Estados Unidos fizeram para apoiar a Ucrânia.

Na conversa divulgada pela The Atlantic, o vice-Presidente JD Vance questiona se faria sentido um ataque dos Estados Unidos aos rebeldes Huthis iemenitas, em retaliação por ataques destes contra a navegação internacional, sustentando serem os europeus os mais afectados pela situação.

"Aproveitamento" militar europeu é "patético"

O secretário da Defesa, Pete Hegseth, respondeu à mensagem de Vance afirmando que só as forças norte-americanas têm capacidade para tal missão, sublinhando concordar com o vice-Presidente que o "aproveitamento" militar europeu é "patético" (escrevendo esta palavra em letras garrafais).

Depois de na segunda-feira ter dito não ter conhecimento do incidente, várias horas depois de ser noticiado, Trump minimizou hoje o caso, apesar de no grupo terem sido partilhados planos precisos para um ataque militar contra os Huthis.

O Presidente norte-americano disse tratar-se de "uma pequena falha", a "única em dois meses" da sua Presidência, enquanto os democratas criticavam no Senado a administração norte-americana por lidar de forma descuidada com informações altamente sensíveis.

Em declarações à NBC News, Trump disse que o lapso "acabou por não ser grave" e manifestou o apoio contínuo ao conselheiro de segurança nacional Mike Waltz, que, por engano, adicionou o editor-chefe da The Atlantic ao grupo que incluía 18 altos funcionários da administração que discutiam o planeamento do ataque.

"Michael Waltz aprendeu uma lição e é um bom homem", disse Trump à NBC News.

O Presidente dos Estados Unidos também pareceu apontar a culpa a um assessor de Waltz, não identificado, por Goldberg ter sido adicionado à cadeia.

"Era uma das pessoas de Michael ao telefone. Um funcionário tinha o número dele lá", acrescentou.

Mike Waltz.
Mike Waltz. Jose Luis Magana

Mas a utilização da aplicação de mensagens Signal para discutir uma operação sensível expôs a Presidência a críticas ferozes por parte dos legisladores democratas, que expressaram indignação perante a insistência da Casa Branca e dos altos funcionários da administração de que não foi partilhada qualquer informação confidencial.

"Tentativa de desviar a atenção" dos "sucessos" de Trump

Também esta terça-feira, a Casa Branca denunciou a existência de uma "tentativa coordenada de desviar a atenção" dos "sucessos" de Trump.

Entretanto, no Senado, funcionários dos serviços secretos norte-americanos negaram que tenham sido partilhados dados sensíveis no 'chat' do Signal onde estava Goldberg e em que se coordenava o ataque militar no Iémen.

O vice-presidente da Comissão de Inteligência da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, o senador democrata Mark Warner, classificou o episódio como um exemplo de "comportamento negligente, descuidado e imprudente" que colocou vidas norte-americanas em risco e perguntou diretamente à diretora da Inteligência Nacional, Tulsi Gabbard, se participou no 'chat'.

Gabbard respondeu que "não vai entrar em pormenores", porque o que aconteceu "está a ser analisado", e insistiu que nada do que foi trocado na conversa era informação protegida, sublinhando a diferença entre fugas maliciosas e acidentais.

Por seu lado, o diretor da CIA, John Radcliffe, admitiu ter participado na conversa sob o acrónimo 'JR'.

Com Lusa