O turismo internacional para os Estados Unidos deverá cair 9,4% em 2025 devido às políticas agressivas da administração de Donald Trump nas fronteiras, uma reversão total da expectativa anterior de crescimento de 9%.

Os dados, divulgados pela Tourism Economics, refletem a alteração da abordagem das autoridades nas fronteiras em relação a turistas com vistos temporários, desde interrogatórios mais demorados e revista de 'smartphones' à revogação sumária da entrada, detenção e deportação.

De acordo com o presidente da Tourism Economics, Adam Sacks, as notícias de vários turistas europeus revistados e detidos à entrada dos EUA teve um efeito significativo nos planos dos viajantes internacionais.

Também o diretor do programa sem fins lucrativos American Friends Service Committee, Pedro Rios, disse à estação pública PBS que numa se viu este tipo de detenções de turistas.

"A única razão que vejo é que há uma atmosfera anti imigração muito mais fervorosa", afirmou.

O ruído mediático de algumas destas detenções -- que nalguns casos chegaram a três semanas sem motivos concretos -- levaram autoridades de vários países, como França, Dinamarca, Alemanha, Finlândia, Reino Unido e Canadá a avisarem os cidadãos de potenciais problemas se tentarem viajar para os Estados Unidos.

Portugal juntou-se, em 28 de março, à lista de países que atualizaram as recomendações, com advertências específicas sobre a identidade de género e para o facto de um visto não dar entrada automática.

No Canadá, em particular, as tarifas e o discurso antagónico da nova administração provocou uma quebra expressiva das viagens e reservas para os EUA. Entre março e abril, o número de passageiros em voos do Canadá para os EUA caiu 70%, segundo a firma de analítica OAG. As reservas passaram de 1,22 milhões para 296 mil em relação ao período homólogo.

A previsão para a época alta, entre abril e setembro, já está 10% abaixo de 2024, o que levou as companhias aéreas a reduzir a capacidade. Também as travessias por via terrestre sofreram: segundo as autoridades da fronteira, houve menos 500 mil canadianos a atravessarem para os EUA em fevereiro.

Só a Califórnia, que recebe anualmente cerca de 1,8 milhões de turistas canadianos, já tem previsões de perdas. A organização que promove o turismo no estado, Visit California, reviu em baixa de seis mil milhões de dólares (cerca de 5,5 mil milhões de euros) a previsão de gastos de turistas em 2025.

O Canadá é o segundo país que mais turistas envia para a Califórnia, atrás do México, e muitos estão a refrear os planos de viagem por receio do tratamento à entrada e indignação com as declarações da administração, que disse que o país se devia tornar no 51º estado dos EUA.

Nas cidades junto à fronteira, os hotéis já registam queda nas dormidas. Os dados da firma de analítica CoStar mostram quebras de 3% nos hotéis a menos de 80 quilómetros da fronteira com o México e ainda mais (-4,8%) no mesmo raio em relação à fronteira com o Canadá.

Também as tarifas impostas a 180 países estão a contribuir para os efeitos negativos na indústria do turismo, com menos turistas dispostos a passarem férias nos Estados Unidos e a gastarem dinheiro lá.

No relatório da Tourism Economics, os analistas antecipam que a guerra comercial vai ter impacto, quer na procura doméstica, quer internacional.

"As viagens domésticas vão ser afetadas negativamente pelo abrandamento do crescimento dos salários e preços mais elevados, enquanto as internacionais serão atingidas por um trio de efeitos: economias a abrandar, dólar forte e antipatia em relação aos EUA".

O turismo tem um peso importante no Produto Interno Bruto (PIB) do país, superior a dois biliões de dólares por ano.

Os EUA receberam 72,4 milhões de turistas em 2024, aproximando-se dos níveis pré-pandemia, recuperação que deverá agora inverter-se. A previsão da Tourism Economics é que esse nível só aconteça em 2029, depois do fim da administração de Trump.