Esta segunda-feira assinalam-se os 80 anos desde que as tropas soviéticas entraram no campo de concentração de Auschwitz. Os 7000 presos que restavam, demasiado fracos para serem incluídos numa última marcha da morte organizada pelos comandantes nazis do campo, são a fonte principal de tudo o que hoje sabemos sobre esse sítio onde a maldade humana atingiu o surrealismo.

Os horrores do Holocausto — A descoberta dos campos de concentração, como o de Auschwitz-Birkenau, na Polónia, e do projeto de extermínio do povo judeu chocou o mundo e condicionou para todo o sempre a postura dos países europeus relativamente à questão da Palestina
Os horrores do Holocausto — A descoberta dos campos de concentração, como o de Auschwitz-Birkenau, na Polónia, e do projeto de extermínio do povo judeu chocou o mundo e condicionou para todo o sempre a postura dos países europeus relativamente à questão da Palestina Galerie Bilderwelt

E no entanto há cada vez mais notícias falsas sobre o Holocausto, que negam o que estas pessoas contam, anulando não só as suas vidas passadas como todo o sofrimento de um povo. A desculpa mais recente para a relativização do que se passou no Holocausto é a agressão sobre os palestinianos em Gaza, que tem desencadeado acusações de genocídio contra Israel, casa do povo para o qual essa palavra foi criada e tipificada na lei internacional.

Neste episódio de Mundo a Seus Pés falamos com Vasco Becker-Weinberg, professor na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, ex-eurodeputado pelo CDS e habitual comentador de assuntos geopolíticos na SIC, neto de um judeu que teve de fugir das leis de Nuremberga, que deram início à segregação da população judaica na Alemanha e foram o primeiro sinal do terror que haveria de vir. A sua avó, por outro lado, era uma alemã pura, ariana, e podia ter vivido uma vida pacífica no seu país. Escolheu antes o crime de sangue que era casar e ter filhos com um ser inferior, um judeu.

Não defende as ações do atual Governo de Israel em Gaza, mas revolta-se com a ligação entre o antissemitismo e a guerra em Gaza. “Podemos falar e Gaza e de Israel e do Médio Oriente, mas falar de antissemitismo e das ações de Israel lado a lado, ao mesmo tempo, serve para perpetuar a ideia de que há uma justificação para os comportamentos antissemitas, ou que eles são de alguma forma compreensíveis à luz do que se passa em Gaza - e não são”, diz Becker-Weinberg.